quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Então é natal...


Nietzsche já anunciou a morte de Deus de várias formas, e no natal temos uma ótima imagem disso. De quem as crianças gostam mais? Quem aparece mais em produtos natalinos? Jesus ou o Papai Noel? Quem é o mais poderoso atualmente? O Deus cristão ou o Deus capitalista?
Natal, assim como todas as datas comemorativas do ano, é apenas mais uma data comercial. A diferença é o 13º salário. Por isso existe o clima natalino, porque é uma época de gastos. A maioria das pessoas tem um troco a mais pra gastar. Então compram suas lembrancinhas, enfeitam suas árvores, compram a geladeira ou a TV nova, e alguns poucos velhos passam o defumador na casa e agradecem a Deus, talvez mais por tradição do que por acreditar mesmo que aquelas "dádivas" vieram do "além". É claro, isto quando lembram de agradecer.
Não tenho a intenção de resgatar o "verdadeiro espírito natalino", até mesmo porque sinceramente nunca acreditei nisso, mas sim de tentar mostrar quão hipócrita isso se mostra em uma sociedade tão decadente como a nossa. Falsos valores, falsos deuses, criados por falsos homens.
Um feliz natal a todos e um próspero ano novo!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O futuro já começou.


Deixando a festividade do título de lado, a questão do tempo sempre foi fundamental no pensamento ocidental. A ponto de Heidegger considerar a possibilidade de esclarecer o sentido do ser através da temporalidade. É, e não é, sobre isto que este rascunho pretende falar.
Não se faz necessário retroceder através da história do pensamento para mostrar os desdobramentos da idéia de tempo através dos diversos pensadores que trabalharam com ela. Basta lembrar que temos sempre a idéia de três modos temporais nos orientando, e que a temporalidade é composta pelos três.
Passado e futuro são, respectivamente algo que não é mais e algo que ainda não é. Ou seja, são em certo ponto modos temporais fora da experiência . Por outro lado, o presente não existe. Ou melhor, só existe como resultado dessa tensão entre a essência e o projeto, passado e futuro. No entanto é o momento fundamental para o homem, pois é nele que se dá a escolha. A nossa maior condição, a liberdade (e a responsabilidade que ela implica), aparece no presente, a cada instante, a cada escolha.
Por questões históricas do momento atual da humanidade e também por aquilo que Heidegger chama de decadência, acabamos por pender para extremos. Quase sempre o que fazemos é orientado para o futuro e esquecemos o momento fundamental de onde esse futuro parte. Várias e várias vezes nos impedimos de experienciar as coisas por medo do grande vilão do amanhã. E esta escolha é uma escolha já feita, porém não por nós mesmos. Só fazemos as coisas como se faz, nos perdendo no "impessoal". Não é que não se deva pensar no futuro, até porque somos projeto também, mas devemos tentar viver as experiências com a consciência de que somos-para-a-morte. Afinal, como diz Vinícius de Moraes: "não se engane não, a vida é uma só". E é este o sentido da angústia em Heidegger: sabermos que somos finitos. É também o problema de Camus: "...em todos os dias de uma vida sem brilho o tempo nos leva. Mas chega uma hora em que temos que levá-lo." Nietzsche: "...sempre há nossos filhos." Sartre, entre outros...
Por outro lado ocorre o desequilíbrio oposto também. A angústia outrora adormecida pelas ocupações com os eternos projetos, de repente aparece. O indivíduo então tem um velamento de seu campo de possibilidades e cai na decadência também. Perde-se no impessoal da mesma forma, pois não sabe lidar com algo assim. Ele passou a vida toda anestesiado e de repente tem que lidar com um vazio que surge do (no) nada. Às vezes é necessário que alguém lhe devolva ao cuidado, às vezes ele encontra seu caminho sozinho, mas nunca é fácil passar por isso. Então ele tenta buscar outras formas de anestesiar-se da existência. Deus, álcool, nicotina, maconha... enfim, qualquer uma destas drogas tem a possibilidade de consumir sua vida de alguma forma.
Neste segundo caso porém, esta angústia pode ser positiva. Já se sente o peso da existência e da responsabilidade como nunca se sentira antes. Este é o primeiro passo. Alguns conseguirão o que o Camus chamaria de permanecer no absurdo. "(o homem) Pode então decidir aceitar a vida em semelhante universo e dele extrair suas forças, sua recusa à esperança e o testemunho obstinado de uma vida sem consolo." É experimentando a liberdade mais real, porém finita, a liberdade de ação, que se pode chegar a essa positividade. Quando se alcança a eterna revolta consciente contra qualquer sentido previamente estabelecido, quando se sente o peso de sua responsabilidade, quando temos a intempestividade em cada escolha, a vida certamente ganha intensidade e profundidade.
Heidegger coloca a decadência como modo de ser do Dasein, pois a cada instante ele é em jogo com seu ser, logo podendo ganhar-se ou perder-se onticamente a vida toda. Mas Nietzsche traz algo de que não podemos esquecer: a vontade. Mesmo nos sabendo errantes em nosso ser mesmo, através da vontade podemos buscar uma vida mais autêntica possível.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Contradição como condição humana e necessária.

Um intelectual certa feita disse: "Somente um idiota não entra em contradição". Gosto muito dessa frase principalmente porque ela expressa justamente a idéia de homem como devir, do Heráclito, tão bela, imponente e mui oportuna em discursos existenciais.

É isso que somos! E de certa forma, ser acaba sendo escolher. Somos o tempo inteiro bombardeados de estímulos que tentam nos determinar, a realidade é resistente, mas no fim das contas, o que fazer com os estímulos é resultado de escolha. Liberdade de escolha.

Escolhemos o que seremos, mas infelizmente não escolhemos se vamos obter tal possibilidade. Ou melhor, felizmente! A psicanálise diz que a falta é constitutiva e necessária. De maneira mais ampla o discurso de Albert Camus a respeito do absurdo da existência é praticamente isso. Afinal se a razão humana pudesse dar conta de tudo, ou se a vida tivesse um manual de instruções, não nos deixando a mínima possibilidade de escolher ou dar sentido às coisas, algo como ser humano, da forma como conhecemos não duraria 5 minutos vivo. O melhor é que isto é contraditório!

O irônico é que atualmente se fala muito em humanização. E os grandes sábios da ciência naturalista experimental parece que ainda não se deram conta de que desde a de-cisão de ver o homem como res cogitans e res extensa o homem vem pendendo pro lado da res extensa há mais de 4 séculos. Se bem que res cogitans por si só já é um nome reprovável pra definir o espírito humano. Mas que é o espírito humano senão contradição? A objetividade do cientista não o permite ver isso.

Apesar de todas as tentativas de resgatar o espírito humano, somente na fenomenologia e, seus desdobramentos, temos uma revolução de fato neste sentido. Diria que mais em seus desdobramentos por Husserl ainda manter certa cisão numênica na realidade, e certo idealismo racionalista. De certa forma, esta aparente contradição que temos na fenomenologia husserliana é necessária.

Tendo Husserl como mestre e utilizando a fenomenologia em outra esfera, Heidegger é considerado por muitos o último grande filósofo alemão. E talvez quem levou mais a fundo essa idéia de mostrar pro homem quão distante está de si e do mundo e como ocorre o distanciamento. Mas mesmo Heidegger também parece ter uma certa contradição. Ao tentar chegar a algo tão imediato, tão fundamental, ele precisou usar de categorias ontológicas, por mais originais que fossem suas utilizações em sua filosofia. Mas isto não é uma crítica. Pelo contrário! Esta contradição não é burra como a de um advogado inexperiente, ou de algum falso intelectual. Esta contradição foi necessária, e seu objetivo nobre a justifica, assim como no caso de seu mestre. Não se tem como ser perfeitamente objetivo falando de algo que é perfeitamente (e maravilhosamente) contraditório como aquele que é em jogo com seu próprio ser.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ilusão etílica

Quando se fermenta amor,
Envelhece o rancor,

ódio, não mais se destila.
Vício maior de quem bebe
é embriagar-se de mentira.

sábado, 21 de novembro de 2009

Metalinguagem

Não sei fazer poesia, mas
Juntando o tempo que passa
a esta solidão que se arrasta
entre rimas pobres,
nas palavras destes versos
deve caber um universo de expressão.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quem sou eu.

Segundo a propaganda do canal Futura até hoje os filósofos tentam responder quem somos. E não é à toa. Martin Heidegger nos mostra como estamos distante, e ao mesmo tempo tão próximos da questão do sentido do ser. Próximos porque segundo ele, em Ser e Tempo, nós, sendo, já nos movemos em uma compreensão pré-ontológica do ser. Distantes porque aos nos orientarmos para esta compreensão tendemos a categorizar o ser, entificá-lo, num outro movimento que nos é próprio de compreender o mundo em determinado modo temporal, o presente, ou seja de apreender o mundo enquanto presença. E assim nos vemos a nós mesmos. Nós que de certa forma somos privilegiados por essa capacidade de compreensão e abertura, nos vemos a partir das coisas. Tentamos dar uma explicação sobre nós mesmos como explicamos cálculos algébricos ou os movimentos tectônicos. Engessamos nossas possibilidades submetendo-nos a nexos de causalidade que aplicamos à natureza. Criamos um 'eu' que julgamos conhecer, como se fosse o nosso no meio de vários outros 'eus' que existem por aí pelo mundo, querendos nos retirar de nós mesmos e queremos justificar essa nossa pretensão cartesiana achando que a consciência principia com a auto-consciência.
Pensemos. Temos uma relação primeira com o mundo porque já, a cada instante, somos-no-mundo, transcendendo-o, mas ao nos voltarmos para os objetos, apreendemo-los como presença em nosso modo próprio de conhecer. Onticamente nos aproximamos, ontologicamente nos afastamos. Constituímos nossa consciência a partir desse mundo, dos objetos, dos quais nos afastamos ontologicamente ao apreendê-los. Então é no mínimo pretensioso querer dar uma resposta definitiva a questão de 'quem somos nós'.

Para responder uma questão como essa (se é que é possível responder) seria necessário no mínimo, para ser honesto, uma reflexão sobre as raízes em que estão sustentadas as nossas formas de compreender o mundo. Fazer o tal movimento regressivo de investigação das raízes de uma tradição que encobre-se a si mesma. Podemos considerar tal missão infrutífera em nosso pragmatismo pós-moderno, mas observando a realidade humana cotidiana só se chega à conclusão de que é necessário resgatar o pensamento.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Realidade virtual: indivíduos próximos ou distantes?

Em notíca divulgada pelo portal G1, esta semana, foi divulgado um problema ocorrido em uma pequena parcela de usuários do site de relacionamentos "Orkut". Estes usuários ao tentarem logar normalmente em suas contas foram surpreendidos pelo fato de que sua conta ou seus dados haviam desaparecido. É interessante notar nos relatos algo próximo ao desespero diante daquela situação de quebra dos laços virtuais: “Tenho mais de 400 amigos, depoimentos e declarações de pessoas que amo. Não quero um Orkut novo, apenas minha velha conta”, uma usuária em e-mail para o portal G1. A grande questão é como são as relações concretas destes indivíduos? E em relação a esta, seria a relação virtual algo da ordem do concreto?

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em suas teorias sobre a modernidade líquida, está sempre nos mostrando como as relações, assim como a economia (braço dominante do Estado), estão cada vez mais na esfera do virtual. E mostra as possibilidades de alguns eventos que possam ter nos levado a esta condição. Mesmo não tendo como oferecer uma resposta fundamentada em dados, o que o Bauman coloca a respeito disso é bastante coerente e perceptível na realidade atual. Em relação a esta questão também pode-se pensar o retorno "às coisas mesmas" da fenomenologia do alemão Edmund Husserl e no existencialismo de Soren Kierkegaard, onde eles tenta escapar do absolutismo das abstrações positivistas que tende a ver o homem como objeto de estudo. Esta coisificação ocorre em consequência do advento da razão que acaba por atingir o status de bom e certo. Emoção e sentimentos devem ser evitados para que os indivíduos possam executar suas atividades. O problema é que tal verdade está tão arraigada que passa a pertencer a todas as esferas da vida comum dos indivíduos tornando-os mais frios e individualistas. E isto se nota nas grandes cidades que estão mais inseridas neste modelo.

Tendo em vista este panorama do não-contato, do não-comprometimento com o outro, da facilidade e velocidade com que as relações começam e terminam (à distância de um clique), reflitamos sobre a questão de essas relações poderem ser consideradas concretas ou não. Por um lado, por conta de várias questões, dentre elas as citadas acima, pode-se considerar que este modo de relacionar-se distancie os homens e impeça o encontro concreto com o outro. Parece de alguma forma que há um distanciamento do mundo da vivência e uma evasão inautêntica que evita a convivência necessariamente conflituosa com o outro. Dessa forma parece que não há possibilidade de a relação virtual vir a ser concreta. Porém por outro lado, tem-se a todo instante pelos veículos de informação o discurso da era da interatividade. Até que ponto deve-se questionar sua validade? Em termos de fenômeno, será que não é possível lidar com a essência do que aparece no virtual? Quer dizer, será que o virtual já não é realidade? Seria considerada à parte ou pertencente à realidade concreta de fato? Será que não existe a possibilidade do encontro com o outro de fato através das relações virtuais que se tornam cada vez mais reais?

A resposta para estas questões demanda de um volume de estudo maior a respeito da questão fenomenológica, mas pode-se concluir enquanto isso que devemos pesar prós e contras das relações virtuais. Elas permitem o encontro, o facilitam, porém facilitam também o não-comprometimento com o outro, minando com o valor moral fundamental do homem que é a responsabilidade, pois esta só pode se dar no compromisso com a alteridade, no contato com o diferente. Pode-se considerar a concretude da realidade virtual sim, porém, o homem não pode chegar ao ponto de desistir de outras vivências em detrimento desta, pois isto acarretará muito sofrimento, fenômeno que já pode ser notado nos próprios sites de relacionamento. Neste ponto vale o pensamento grego da justa medida, do equilíbrio.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Viva o consumismo!


O comediante George Carlin em seu vídeo maravilhoso sacaneando os Dez Mandamentos fala que a cobiça é boa pois é o que sustenta a economia. De fato ele está certo, afinal como diz a psicanálise, somos sujeitos desejantes, mas até onde isso pode nos levar?

Sabe-se que vivemos na sociedade de consumo onde os indivíduos são bombardeados por informações que tentam despertar neles a necessidade de comprar várias coisas, muitas vezes sem utilidade. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman atenta para isto em sua obra "Globalização - As consequências humanas", em um tom meio psicanalítico ao dizer que o bom consumidor não deseja a prometida satisfação de uma necessidade, ele deseja o desejo. E deseja tanto que faz da espera suscitada pelo desejo, um modo de vida. Um carro que lançou, uma nova grife, uma nova fragância, um novo detergente, a todo instante surge algo NOVO, e esta necessidade do novo, o desejo do desejo, é consequência de uma sociedade governada pela economia. O Estado está fragmentado, a economia está atingindo o grau máximo de liberdade e isto gera alguns efeitos desastrosos.

A produção em larga escala faz com que tenhamos todo dia um lançamento de um produto no mercado. As pessoas em determinadas regiões fazem fila nas portas das lojas quando lhes é prometida a chegada de algo novo no mercado. Enquanto isso assuntos importantes à respeito da sociedade são completamente esquecidos e cada um só quer saber de garantir o seu quinhão neste admirável mundo novo. O Estado agora fragmentado cada vez mais perde força, não consegue garantir suas funções essenciais perante a sociedade, está completamente a serviço das grandes empresas, e parece ter como função somente separar as maçãs podres das boas em seus grandes presídios, utilizando o padrão impessoal de objetividade das belas leis da imensa constituição brasileira. Além de outras questões que escapam mas estão ligadas a mesma problemática.

Mas que isso importa? Eu tenho meu carro zero, comprado antes que eu terminasse de pagar o anterior, mas eu não podia perder a redução do IPI, mesmo que tenha tido de fazer um financiamento por um banco que vai me cobrar taxas que farão com que o carro saia pelo dobro do preço. Nem me importo também se corro o risco de ficar sem grana pro bandeco, pior seria deixar de pagar o carro e perdê-lo por causa do contrato do financiamento. O que me resta fazer agora é colocar um som bem grande na mala e desfilar por aí exibindo minha ignorância e falta de erudição pela minha bela cidade provinciana. Tenho uma camisa Brooksfield, que combino pessimamente com meu Nike Shox, e um MP-X que vem com a maior revolução depois do cartão de memória: o descascador de alho! Além de continuar servindo como celular. A minha vida é boa porque sou rico da graça de Deus, mas bem que eu preferia ser rico de grana mesmo como aquele cara em quem eu votei na última eleição, ou aquele jogador ídolo que é um exemplo de vitória, enquanto outros milhões de vitoriosos, que sustentam a família com 465 reais, passam despercebidos no anonimato da cotidianeidade. Azar o deles, eu não quero é pensar nesse negócio de vida, sociedade, humanidade... ou melhor, não quero é pensar. Bem melhor quando a gente tem alguém pra pensar pela gente.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Celebridades na Pós-Modernidade.

Em sua obra sobre o processo de globalização e suas consequências humanas (de mesmo nome), o sociólogo polonês Zygmunt Bauman lança luz ao processo de formação do domínio do Estado moderno até seu estágio atual (pós-moderno).

Em meio a essa discussão ele retoma a brilhante idéia de Michel de Foucault sobre o Panóptico, para mostrar que aquilo de que outrora o Estado se utilizou para conquistar o espaço, agora já não funciona da mesma maneira. Mas o que isso tem a ver com o mundo das celebridades?

Aparentemente nada. O Panóptico de Foucault é uma representação da forma de domínio do Estado moderno onde os indivíduos vigiados não podem perceber seus vigilantes que podem mover-se livremente no alto da torre, de forma que os vigiados jamais percebam quando eles estão ou não lá, e se sintam coagidos a agir sempre dentro das regras impostas a eles. Bauman irá revelar que o Panóptico não mais é por si só suficiente para representar fielmente a forma de domínio que existe hoje na pós-modernidade, mostrando que na realidade, outra forma de poder cresceu paralelamente na contemporaneidade, devido aos grandes avanços da tecnologia e a força obtida pela economia no tripé estatal (economia, militarismo e cultura), porém não mais como "dominação", mas sim agora como "estilo de vida". Foi a evolução dos meios de comunicação.

No modelo proposto por Foucault poucos poderiam observar muitos, mas na pós-modernidade a idéia do Sinóptico de Thomas Mathiesen aparece como a outra possibilidade mencionada anteriormente: muitos observam poucos. Isto é o que? Justamente o mundo das celebridades. Elas que são pessoas "globais", no sentido baumaniano, que podem mover-se livremente, não são "locais", não estão presas ao espaço, vivem no tempo, são cosmopolitas, chegam e saem quando querem dos lugares e sempre são bem recebidas, são admiradas e principalmente seguidas. O foco do Sinóptico então, diferentemente do Panóptico, está justamente nos vigilantes, não mais nos vigiados.

A TV ajuda o Estado a cumprir seu papel de policiamento da sociedade. Ela dita as regras, as últimas tendências, os modelos de conduta e as pessoas se deixam seduzir, pois querem atingir aquele nível de mobilidade, de vida. Querem ser globais também, e por isso querem imitar, seguir aquilo que é ditado, na esperança de algum dia chegar a ter uma vida semelhante. Dessa forma, a grande maioria das pessoas, localizadas, sem a possibilidade de mover-se, de chegar à extraterritorialidade do espaço virtual da comunicação restrito aos "globais", se conforma com (e é convidada a) observação das celebridades, e abandona-se a seu devaneio de sonhar com a possibilidade daquele lifestyle sem procurar fazer algo de fato para mudar sua própria realidade.

Enfim, este é apenas um recorte feito dentro do que se pode pensar a respeito do controle social dentro da pós-modernidade. Há outros fatores políticos mais amplos que podem ser pensados relacionados também com esta situação.

E este texto é praticamente uma resenha de um trecho dum livro do Bauman chamado "Globalização, As Consequências Humanas", que recomendo muito.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Na seca de idéias, reflexões sobre a existência.


Certa vez aqui falei a respeito do sentido da vida, e sobre a sua possibilidade de fazer sentido pelo fato de não ter um sentido. Então de repente, me encontro com Sartre falando sobre a gratuidade da existência em A Náusea e isso volta a me angustiar.

A existência é gratuita. O que isto quer dizer? Quer dizer que todos os existentes se dão pelo nada. Um nada denso e pesado que temos de suportar resignadamente e que está por toda parte define o ser para a consciência, então ao pensarmos em algo, estamos pensando em tudo aquilo que ele não é. Mas tudo isso é significação da consciência. Temos então a discussão sobre o que vem primeiro: a consciência ou a linguagem. Aposto na primeira, mas não vou me ater nisto no presente texto.

É bem angustiante lidar com essas questões da existência, mas Sartre mostra como temos certas condutas diante dela para suportá-la. Neste ponto lembro da questão da cultura no Freud em que ele diz da gratuidade de alguns rituais dos neuróticos que praticamos e nem nos damos conta, nem queremos saber por quê. Guardadas as proporções desta comparação, em A Náusea temos exemplos destas condutas que nos utilizamos para nos iludirmos do sentido da existência e não ter de se haver com ela em toda sua nudeza cruel, como pensar que os fatos se agrupam por si só numa lógica universal (conduta teleológica), e, principalmente em relação à história, inverter a lógica dos fatos, de modo a se achar que tudo que aconteceu estava realmente levando a aquele fato, quando na realidade tudo se deu gratuitamente, todas as escolhas e consequências.

Enfim, independente daquilo que cada um elabora para se proteger do peso existência, a minha leitura de A Náusea corrobora meu post anterior sobre a questão do sentido da vida: a existência é gratuita, cada um lida com ela de uma forma, e graças a isso e ao nosso modo de ser-consciência temos inifinitas possibilidades e 6 bilhões de indivíduos diferentes.


Ps.: O texto ficou bem ruinzinho mesmo. Mas na seca de idéias em que me encontro tá ótimo. Alguém me ajuda a clarificar meu campo de possibilidades?

terça-feira, 23 de junho de 2009

Operação "Vamo zuá"

Mais um fim de semana na capital maranhense e 30 estabelecimentos noturnos fechados, dentre eles o tão famoso bar do Nelson e o já famoso Pirata. Sensação de justiça e dever cumprido pelos responsáveis órgãos competentes ou indignação pela controle imposto até mesmo ao lazer?
A verdade é que a operação Manzuá está fundamentada num "Termo de Ajustamento de Conduta do Ministério Público" do Maranhão. Ajustamento de que conduta? De quem? E como assim ajustar?

Segundo ainda o site imirante.com, a medida servirá de protótipo para a homologação de uma "Lei Ordinária Municipal para Estabelecimento de Normas Especiais para Funcionamento de Bares e Similares no Município de São Luís", que tem como referência o "Código de Postura do Município de São Luís, de 1968, única lei em vigor que regula o funcionamento de estabelecimentos comerciais do gênero.".

Entre atrasos e descasos o projeto como um todo visa a diminuição dos índices de violência na ilha. O que seria ótimo se os responsáveis pela violência fossem os donos de bares ou mesmo o próprio álcool. Mas o sujeito que comete o ato de violência independentemente de estar alcolizado ou não, geralmente está vivendo cheio de problemas, principalmente de ordem financeira. A cidade de São Luís tem índices de crescimento de cidades grandes e índices de desenvolvimento de cidades porto-riquenhas. Então que conduta devemos ajustar? A do estado que não consegue fazer um planejamento decente para o crescimento de uma cidade como São Luís ou a do indivíduo que acaba se tornando um "produto do meio"? Não se trata de um discurso de vitimização do indivíduo que comete a violência, mas é de se por em pratos limpos qual a função verdadeira do estado, que é a de promover bem-estar social, e não a repressão da válvula de escape que as pessoas ainda tem, a diversão.

O que acaba parecendo é que exige menos trabalho e dá mais "ibope" medidas de curto prazo como esta para nossos governantes. Sem falar, é claro, que são bem recebidas pela população, talvez por algum tipo de moralismo cristão que ainda é forte em nossa cultura ou ainda pelo fato de a cidade não possuir uma vida noturna ainda digna de uma capital. Melhor hipótese ainda talvez seja por terem utilizado uma lei de 1968 como base para um projeto de 2009.

No fim das contas, perde o estado por deixar de lucrar a partir de meia-noite, os cidadãos que em vez de serem beneficados por políticas públicas honestas e comprometidas, são reprimidos, e perdem principalmente os indivíuos que tem seus empregos ameaçados.

terça-feira, 19 de maio de 2009

São Luís, te quero bela.


Vivo numa bela cidade. Uma cidade simples, dita patrimônio cultural da humanidade por causa de meia dúzia de casarões velhos e deteriorados. Temos a idéia de que é bonito e intelectual venerar o passado. Mas não passa disso.

Temos grandes representantes políticos, uma aristocracia rural rústica, tropeira e sem modos, mas podre de rica, uma gente que parece se esforçar pra ser feia com suas chapinhas e etc., uma empresa que não consegue distribuir água mesmo num estado cheio de rios, uma companhia elétrica que não consegue regular a voltagem distribuída para as casas, uma classezinha estudantil medíocre que quando não quer ser Che Guevara, é apática e alienada, uns peões que entopem a mala do carro de caixas de som pra chamarem a atenção de outros peões, entre outras "maravilhas".

Mas nem tudo está perdido! Os grandes representantes políticos estão velhos, decrépitos ou cheios de doença, então nao custa pagar pra ver quando os atuais pequenos se tornarem grandes. A aristocracia rural, até por uma questão de dinâmica econômica tende a deixar de ser pelo menos rural, então quem sabe talvez seus filhos venham a ser menos rústicos, tropeiros e sem modos, afinal a maioria já estuda na cidade, onde as possibilidades de interação com o século XXI são maiores. A chapinha às vezes dá certo pra algumas pessoas, então quem sabe o bom senso venha com o tempo. A questão da água vai ser problema pra todo mundo daqui a alguns anos, então talvez a noção de "má distribuição" tenda a se modificar também, ou a empresa de água pode vir a ser privatizada e talvez ganhe até concorrência. Concorrência esta que seria essencial para que a empresa de luz fosse melhor (qualquer empresa, aliás). A classe estudantil, por questão de mercado (cada vez mais exigente), creio eu, e também pela mudança que possa vir a ter no ensino médio e no vestibular, vai aprender que estudante tem é que estudar, não adianta levantar bandeiras se o indivíduo ainda é um feto na sociedade, assim talvez passe a ter visão crítica decente e coerente de mundo, sem manipulações partidárias ou ideológicas de quaisquer movimentos, o que de fato seria mais que uma revolução; e por outro lado, ao ler mais, quem sabe os estudantes passem a buscar melhorias em seu ensino, para mais na frente promover mudanças significativas . Os peões talvez aprendam que existem formas mais charmosas, sutis e efetivas de se chamar a atenção, e de pessoas que realmente interessam, não de outros peões. 

Enfim, talvez as pessoas no futuro tenham frustrações mais simples delas lidarem.
Mas alguém aí acredita mesmo em futuro? Ou em alguma coisa dita no parágrafo anterior? (Ou ainda que eu seja realmente esse poço de otimismo?)

domingo, 3 de maio de 2009

As últimas tendências outono-inverno na Ilha do Amor

Isso mesmo! De repente naquela velha mudança excessiva de canal bem típica de um domingo, minha atenção se detem em um desfile da loja de roupas Dona Florinda.

O que chamaria tanto a atenção num desfile de moda jovem de uma loja de shopping da nossa bela capital? Sinceramente acho que é um fato curioso por si só! Mas o que eu achei mais interessante mesmo foi que o desfile era da moda outono-inverno da loja localizada EM SÃO LUÍS. Perguntem a seus professores de geografia quando existiu INVERNO em SÃO LUÍS! Nossa cidade, por estar situada a aproximadamente dois ou três graus da linha do Equador, só possui duas fases climáticas no ano: período chuvoso e estiagem. Não temos estações do ano definidas.

É óbvio que muita gente sabe disso (espero!), mas fazem questão de ignorar a reflexão por acharem que é algo que não merece atenção. Podem argumentar dizendo que é uma questão meramente mercadológica onde o fator climático chega a ser quase ilustratvo, afinal o que está em voga são as roupas. Mas por falar nelas, se alguém assistir ao desfile perceberá a importância do que digo. Muito bonitas as roupas, mas o tipo de coisa que você só imagina alguém utilizando no São Luís Shopping, e olhe lá.

Ainda assim, sempre surge também aquele papo de "liberdade", "estilo", entre outras idéias tão manipuladas pelo poder midiático. Percebam: quando se está no ensino regular e os pais dos alunos pegam a lista de livros, tem alguma publicação voltada para a realidade do Maranhão?(além do clássico Terra das palmeiras que quase não é adotado) A questão é que já se começa o processo de aprendizagem envolvido numa alienação, e infelizmente como resultado acaba-se tendo estes absurdos como tal desfile. A coleção é toda voltada para o mercado consumidor de uma cidade fria, mas tenho certeza que verei "tanto crianças como adultos" (proposta da loja, segundo sua representante) desfilando pela noite ludovicense  com botas até o pescoço e jaquetinhas xadrezes.

Cidade fria a nossa, não?
(Obs.: Imagem retirada do seguinte endereço: http://seashowroom.blogspot.com)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O que assombra

Não há que duvidar do mal que carregas
caso consigas, atente para o que nunca se estranha
aquela que sempre o acompanha
e sempre opõe-se à luz, nas trevas.

Sim, me refiro aquele borrão escuro
com o qual sempre estamos a manchar
o carpete do mundo.

quarta-feira, 25 de março de 2009


Parece que finalmente consegui postar um vídeo nesse troço.
Este que estou postando era pra estar no segundo ou terceiro post desse blog, mas como nunca consegui fazer upload de nada pra postar, só agora ta indo.
Esse vídeo é meio engraçado e proporciona uma boa reflexão a respeito de alguns aspectos, às vezes contraditórios, do ser humano. Meio que mostra o quanto a gente constrói algumas significações e as toma como verdades universais, além de criticar algumas atitudes que tomamos no sentido de olhar mais para as diferenças do que para as semelhanças.
O Ernest Cline, humorista norte-americano criador do vídeo, já começa nos colocando em nosso lugar no universo. Hahaha!
É interessante perceber neste vídeo que nós já somos idiotas demais pra vir um imbecil tido como intelectual só porque escreve bem reforçar isso em nós.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Arnaldo Jabor emburrecendo calouro

Não costumo postar coisas que outras pessoas escrevem, mas ao encontrar esta desprezível e fétida composição (em decomposição) de Arnaldo Jabor num certo perfil de orkut de um(a) calouro(a) UFMA-2009, me bateu certo nojo (sempre que penso nisso sinto nojo, na realidade) do sistema educacional tecnicista cartesiano do mundo ocidental que projeta sujeitos numa ordem de alienação como se fossem meras engrenagens de um sistema, como se fossem coisa.
Gostaria de dizer que acho Arnaldo Jabor fenomenal, mesmo quando não concordo com o que ele pensa, mas não posso fechar os olhos para este momento infeliz que o fez escrever tal asneira. O mundo já está corrompido por esse sistema que nos torna robôs individualistas completamente embecilizados, aí vem um cara e diz pras pessoas sorrirem e acharem tudo muito maravilhoso, entregar os problemas na mão de Deus, se casarem com pessoas que riem, etc.? Pode até não ter sido intencional, mas este texto é pra emburrecer as pessoas e fazerem com que elas não se percebam no ninho de cobras da vida neste mundo em que estão, no fracasso da humanidade, no hedonismo material que empobrece as relações, enfim, ridículo. O mundo está se tornando cada vez mais insuportável pra mim devido a dificuldade de encontrar alguém que pense, simplesmente pense, sobre qualquer coisa, boa ou ruim, concorde ou não comigo, mas que pense.
Ao contrário do que possa parecer, eu não sou comuna, eu não quero salvar o mundo, mas seria interessante que as pessoas dedicassem pelo menos uma hora do seu dia à reflexão. Sobre qualquer coisa: política, economia, ciência, escritos bíblicos, etc., mas que pensassem a respeito. Talvez nem tudo esteja perdido, mas não vou estar aqui mesmo pra descobrir...
Agora o que todos esperavam: o texto idiota do Jabor.

SEJA UM IDIOTA - Arnaldo Jabor

A idiotice é vital para a felicidade.
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre.
Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado?
Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota!
Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você.
Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele.
Pobre dele.
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro,sexo,sincronia, mas pela ausência de idiotice.
Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça? hahahahahahahahaha!...
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana?
Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas.
E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar.
Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa. Dura, densa, e bem ruim.
Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva. Pule corda!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras.
Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir... Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios".
"Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche".

O que aparenta é que a responsabilidade faz mal à vida. Acho que por ele querer que os brasileiros realmente assumam sua condição de povo alegre, sorridente e que não pensa nos problemas. Não pensa, melhor dizendo...
Pode aparecer alguém dizendo que eu estou exagerando, mas acho que num país como o Brasil, publicar-se um texto desse é no mínimo irresponsabilidade. Talvez se fosse na Rússia ou na Inglaterra, fosse pelo menos aceitável.
Quem quiser ser idiota, que não me convide.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Vontade de poder e Angústia: condições humanas?

Não se deve esperar muito desse post pois minha leitura em Nietzsche é meio fraca.
Mas em suma, surgiu numa bebedeira, depois de muitos devaneios, uma discussão à respeito da categorização da vontade de poder como condição humana, tal qual a angústia.
Em Kierkegaard, e em outros autores existencialistas, a angústia pode ser tida como condição humana pois, independente da situação em que o indivíduo esteja lançado no mundo, uma hora ele deverá sentir a angústia, ou seja, ela é universal.

A angústia, como meus amigos filósofos do grupo de estudo em Heidegger puderam perceber, não tem como ser conceituada, apesar de que deve ser sentida por todos. Na literatura existencialista de modo geral, ela surge a todo instante, toda vez que escolhemos (e estamos sempre escolhendo). A cada escolha que fazemos há uma renúncia, e isso nos angustia ao escolher. "Por que fizemos tal coisa, e não outra?", sempre nos perguntamos, e é esse questionamento, decorrente da nossa capacidade de significar a existência e de nos projetar no futuro que faz surgir tal "sentimento".

Tendo em vista essa universalidade da angústia, me questionei, juntamente com Márcio Cleyton Greyck Clapton, se há a possibilidade da vontade de poder nietzscheana se encaixar nesta categoria de condição humana. Afinal a angústia nos move, isto é fato. Mas será que não existe algo de vontade, no sentido de poder, de ter, inerente às escolhas tal qual a angústia?

Na visão de Nietzsche, na Gaia Ciência, há uma relação entre o ter e o ser. Pode-se questionar se a liberdade sartreana de escolha não teria, na individualidade e subjetividade que constituem o indivíduo, certo "direcionamento existencial", no sentido de ser algo transcendente à própria compreensão dele da escolha e de seu projeto, talvez algo próximo de uma "particularidade" do dasein, aproximando à teoria heideggeriana. Seria algo que nos movimenta tal qual à angústia, algo que nos leva ao sentido de ser, porém de uma posse desse ser, de ter um ser, mesmo que nunca alcancemos essa possibilidade.
Uma possível problemática dessa questão talvez esteja em buscar fundamentar o ser deste ter numa ontologia fenomenológica, tal qual o Sartre faz com o ser do conhecimento em "O Ser e o Nada". Pois queremos sempre ter um ser, estamos sempre em busca de possuí-lo para compreendê-lo, mas como nosso modo de ser é ser-para-vir-a-ser, tudo desaba no efêmero e num nada de possibilidades, nos impedindo de concluir esse nosso projeto. Ou não! Talvez no próprio Nietzsche abandone-se esta relação entre o ser e o ter ou ainda talvez se aprofunde ainda mais. Descobrirei futuramente.

Os husserlianos/sartreanos/heideggerianos/etc. podem ficar de cabelo em pé com esta suposição, afinal creio estar entrando em oposição a alguma coisa dessas teorias, além de as estar misturando um pouco. Mas há de se reconhecer que há certa coerência para um graduando em psicologia interessado em estudos filosóficos.

Postei esse devaneio porque além de ter prometido ao meu amigo Márcio que o faria, acho que em minhas leituras em Nietzsche e Sartre, ou em algum argumento indubitável que alguém porventura lance, descobrirei a resposta da questão.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Breve crítica ao modelo cartesiano e suas implicações à visão de homem sob a perspectiva fenomenológica

Ando meio sem insights, inspiração, idéias, etc. pra postar.
O texto seguinte foi feito com pressa numa tarde tempestuosa e estressante de uma sexta-feira, último dia de aula que tive antes das férias.
Quem quiser tiver coragem de ler, tenha isso em mente:

Durante a crise da Idade Média, a igreja perdeu seu domínio sobre o conhecimento. Esta perda de força da verdade divina está relacionada a diversos fatores históricos como as péssimas condições sociais vivida pelas pessoas em decorrência da disparidade entre os recursos econômicos e o crescimento populacional, além da opressão da igreja, somadas a outros fatores, que fizeram com que o homem voltasse o olhar para si mesmo e buscasse em si o conhecimento do mundo. 

Talvez o maior divisor de águas entre esse antigo sistema religioso e o advento da razão tenha sido René Descartes. O filósofo francês moderno, apesar de ainda ligado à idéia de um ser divino, inaugura um modelo de pensamento que sustenta até hoje a espistemologia na civilização ocidental em todas as áreas de conhecimento. Este modelo desenvolvido por ele dá um caráter universal à forma de perceber o mundo por proposições lógicas e racionais, ou seja, o homem, tido por ele como res congitans (substância pensante), só pode acessar o conhecimento verdadeiro do mundo através de proposições pautadas exclusivamente em juízos objetivos conduzidos pelo método.

Essa infalibilidade da razão dada na modernidade foi repensada posteriormente por muitos filósofos. Por exemplo, Henri Bérgson, ao falar sobre a vivência do indivíduo, de algo que é da experiência individual e escapa à razão. Tem-se também o Dilthey que enfoca outra forma de lidar com os fenômenos, através de uma compreensão, um entendimento, abrindo outra possibilidade para as ciências sociais que não fosse a explicação interpretativa que é o método das ciências da natureza. Enfim, Berkeley, Leibiniz, Kant, Hegel e Husserl. Este último como mentor da fenomenologia, portanto de maior relevância para esta problemática. 

E. Husserl, matemático e filósofo alemão, quis criar uma ciência de rigor que embasasse todo o conhecimento. De certa maneira retorna ao modelo cartesiano e vai buscar nele próprio, outra possibilidade de conhecimento para o homem. Ele utiliza o argumento do cogito para a criação do seu método de investigação: o método fenomenológico. Neste método, o indivíduo não irá duvidar do que conhece como no modelo cartesiano, mas sim, colocar “em suspensão” seus possíveis juízos impregnados de abstrações, ou seja, tentará perceber a realidade sem qualquer pressuposto ou pré-julgamento. Isto se torna o cerne de seu pensamento, pois Husserl acredita que se deve “voltar às coisas mesmas”. Ele queria justamente retirar toda a densidade que era conferida ao mundo pelos naturalistas, como se este fosse um objeto o qual nós jamais poderemos conhecer em sua essência de fato. 

Os naturalistas acreditam que existe uma natureza dada à priori em relação a nossa consciência e por esta crença cortam a relação existente entre consciência e mundo. Este segue sua suposta dinâmica natural independente da consciência, sendo a missão desta apenas buscar explicações para os movimentos naturais desse mundo. Husserl retoma de certa forma a idéia de Berkeley (esse est percipi) e considera o mundo como existente somente em relação a uma consciência, aproximando-se mais mesmo do conceito de consciência posicional de Brentano com quem teve muito contato. Não há uma evidência de que as coisas realmente existam no corte da relação com a consciência, pois esta é nossa única possibilidade de conhecer. 

Toda a densidade concedida ao objeto, todo este enfoque preconizado pela atitude natural, aliena nossa visão da essência do que aquele objeto de fato é, implicando que os naturalistas, na realidade, talvez não estivessem preocupados com a verdade, mas sim em buscar em relações causais uma forma de apreender o mundo em abstrações e juízos, para tentar dominá-lo. 

Este método naturalista foi erroneamente levado pras ciências humanas, acabando por tornar objeto algo que a razão não tem como dar conta que é a ação humana. Como conseqüência o agente dessas ações, o próprio homem, acabou tido como objeto, aquela coisa pensante da qual falava Descartes. Além disso, o homem é visto através de uma fragmentação de sua condição humana, que também é preconizada pelo método descartiano. 

Husserl vai tentar devolver esse homem à sua totalidade e percebê-lo como ele de fato é, em essência, através do método fenomenológico, que visa perceber o fenômeno como ele se apresenta à consciência. O homem será visto não mais somente pela via da razão como outrora, mas sim como um sujeito que dá significação ao mundo e, na realidade lhe confere existência. Um ser que tem algo de transcendental, algo que escapa às possibilidades de uma previsão de um modelo causal. Uma consciência singular que é sempre movimento (um transcender-se), dotada de subjetividade e que não tem como ser determinada por relações causais, pois é sempre possibilidade. Ele resgatará também o conceito de compreensão de Dilthey, pois este homem tem uma vivência que não pode ser explicada, mas sim, deve ser compreendida.

Este movimento da fenomenologia ainda não atingiu a potencialidade que deve ser atingida em nossa sociedade individualista. O homem ainda é visto como “coisa” quase em todas as áreas do conhecimento, e isso lhe retira seu caráter humano tentando torná-lo apenas mais uma engrenagem de um sistema, sem levar em consideração outros aspectos da totalidade de sua vida como seus sentimentos, seus medos, suas angustias, etc. Talvez em conseqüência, disso alguns estudos apontem a depressão como a doença do século XXI, pois as relações humanas estão prejudicadas por estarem submetidas ainda à noção coisificadora provocada pelo modelo racional.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Desespero Humano

Desesperado o homem é de nascença,
Nega a si mesmo em busca de seu eu.
Vivendo seu desespero
Sua paz só chega quando finda sua existência.

Para infortúnio seu,
Amaldiçoado com a tal consciência
Sabe que um dia morrerá.
Não importando o que leu, escreveu, viveu...

Desesperado o homem é de nascença.
Vivendo seu desespero,
Amaldiçoado com a tal consciência,
Sabe que um dia morrerá.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Paradoxalidade romântica

Às vezes somente é preciso compreender que não adianta iniciar uma batalha quando se já está ferido.
Mas só às vezes...
O amor pode ser o mais cruel e belo sentimento que existe,
se é que existe.

domingo, 4 de janeiro de 2009

O problema das cotas. REVOLTA!

Já havia feito um texto criticando essa comprovação do fracasso do sistema educacional brasileiro, mas eu não havia visto ainda as concorrências do vestibular deste ano. A palavra mais próxima do que estou sentindo é REVOLTA. Vejam os números:

Medicina Negro - 2,72
Medicina Escola Pública - 14,08
Medicina Universal - 61,02

Isto se repete em todos os outros cursos. É uma facilitação ridícula que confessa a falta de orgulho dos próprios negros, ao contrário do que o sistema idealizado preconiza. Não gostaria de vir com este papo chato e desgastado sobre cotas de novo, mas é simplesmente ridículo o que está acontecendo. Inclusive deixa dúvidas quanto à idoneidade do sistema, pois é sabido que o Maranhão tem a 3ª maior população negra do país e a disparidade nos números é brutalmente visível. Será que uma minoria não está sendo beneficiada? Afinal o que confere poder aos "doutores da raça" para emitir um julgamento do tipo "quem merece ou não ser chamado de negro"? Parece ser muito cômodo que uma política que aparentemente visa resolver um dos mais polêmicos problemas do mundo, no nosso país, sirva também como forma de empurrar com a barriga outro problema gravíssimo (talvez o mais grave de todos) mas que custa bem mais caro, o da educação.

Muitas das pessoas que estão à frente dos movimentos negros, parecem sempre se acharem perseguidas, quase sempre tomando um discurso quase racista, aparentando ainda viverem à sombra de uma escravidão, ou, pode-se supor que, justificando verbas para seus projetos com esse eterno "mecanismo de defesa", além disso, transmitindo esse germe do preconceito àqueles que ingressam nessa politicagem, às vezes com as melhores das intenções. Grande parte de suas tentativas fracassadas de se auto-afirmar passam mais por um sentimento de rancor do que por uma luta pela igualdade. Talvez alguns só se satisfizessem se escravizassem os brancos por alguns séculos.

Creio que o primeiro passo para igualdade seja tentar não olhar pra cor, seja o branco ou o próprio negro. A sociedade do capital, a meu ver, está chegando a tal estágio onde as relações culturais são sempre mediadas pelo dinheiro e isto inclui o problema do racismo. Cada vez mais vale quem tem, e não quem nasceu assim, ou assado.

Logo a cota para escola pública abrange toda a questão, uma vez que soube por pessoas envolvidas no processo que as cotas são pra negros POBRES. Ou seja, se a questão é sobre capital, sou a favor do argumento de uma única cota. Não que eu seja a favor de cotas, quaisquer que sejam, mas se tiver de apontar a menos injusta, com certeza é esta. Afinal a maioria da população negra está na camada baixa da sociedade, só que não são somente negros. Muitos brancos também são pobres. Então essa cota não os exclui. Se as pessoas não passarem a lidar com esta realidade, daqui a pouco vamos ter filas para negros, caixas para negros, elevador para negros, banheiro para negros, etc., até que tenhamos universidades só para negros.

É certo que, na realidade, sou CONTRA qualquer tipo de cotas. Devemos olhar para a educação de forma honesta. TODOS sabem que o sistema de cotas não é uma conquista, mas sim um retardo. O retardo de uma implantação de uma política educacional séria e comprometida de verdade. Onde desde a educação básica o sujeito receba instrumentalização digna de conseguir gerir sua vida futura sem o auxílio de aberrações políticas de empobrecimento cultural ou de beneficiamento de grupos. ISTO SIM SERIA IGUALDADE DE OPORTUNIDADE.

Por favor, este não é um texto de cunho racista, até porque eu sou negro. Esperam que compreendam a que se dirigiu meu protesto. Na realidade eu confio nas possibilidades de todas as pessoas, desde que elas queiram lutar. "Você é o que você faz com aquilo que fazem de você" (Jean-Paul Sartre).