quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Celebridades na Pós-Modernidade.

Em sua obra sobre o processo de globalização e suas consequências humanas (de mesmo nome), o sociólogo polonês Zygmunt Bauman lança luz ao processo de formação do domínio do Estado moderno até seu estágio atual (pós-moderno).

Em meio a essa discussão ele retoma a brilhante idéia de Michel de Foucault sobre o Panóptico, para mostrar que aquilo de que outrora o Estado se utilizou para conquistar o espaço, agora já não funciona da mesma maneira. Mas o que isso tem a ver com o mundo das celebridades?

Aparentemente nada. O Panóptico de Foucault é uma representação da forma de domínio do Estado moderno onde os indivíduos vigiados não podem perceber seus vigilantes que podem mover-se livremente no alto da torre, de forma que os vigiados jamais percebam quando eles estão ou não lá, e se sintam coagidos a agir sempre dentro das regras impostas a eles. Bauman irá revelar que o Panóptico não mais é por si só suficiente para representar fielmente a forma de domínio que existe hoje na pós-modernidade, mostrando que na realidade, outra forma de poder cresceu paralelamente na contemporaneidade, devido aos grandes avanços da tecnologia e a força obtida pela economia no tripé estatal (economia, militarismo e cultura), porém não mais como "dominação", mas sim agora como "estilo de vida". Foi a evolução dos meios de comunicação.

No modelo proposto por Foucault poucos poderiam observar muitos, mas na pós-modernidade a idéia do Sinóptico de Thomas Mathiesen aparece como a outra possibilidade mencionada anteriormente: muitos observam poucos. Isto é o que? Justamente o mundo das celebridades. Elas que são pessoas "globais", no sentido baumaniano, que podem mover-se livremente, não são "locais", não estão presas ao espaço, vivem no tempo, são cosmopolitas, chegam e saem quando querem dos lugares e sempre são bem recebidas, são admiradas e principalmente seguidas. O foco do Sinóptico então, diferentemente do Panóptico, está justamente nos vigilantes, não mais nos vigiados.

A TV ajuda o Estado a cumprir seu papel de policiamento da sociedade. Ela dita as regras, as últimas tendências, os modelos de conduta e as pessoas se deixam seduzir, pois querem atingir aquele nível de mobilidade, de vida. Querem ser globais também, e por isso querem imitar, seguir aquilo que é ditado, na esperança de algum dia chegar a ter uma vida semelhante. Dessa forma, a grande maioria das pessoas, localizadas, sem a possibilidade de mover-se, de chegar à extraterritorialidade do espaço virtual da comunicação restrito aos "globais", se conforma com (e é convidada a) observação das celebridades, e abandona-se a seu devaneio de sonhar com a possibilidade daquele lifestyle sem procurar fazer algo de fato para mudar sua própria realidade.

Enfim, este é apenas um recorte feito dentro do que se pode pensar a respeito do controle social dentro da pós-modernidade. Há outros fatores políticos mais amplos que podem ser pensados relacionados também com esta situação.

E este texto é praticamente uma resenha de um trecho dum livro do Bauman chamado "Globalização, As Consequências Humanas", que recomendo muito.

Um comentário:

Mara disse...

quer dizer, então,que antes nós eramos coagidos, hoje somos alienados... é as coisas tão melhorando. hehehe.