quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Então é natal...


Nietzsche já anunciou a morte de Deus de várias formas, e no natal temos uma ótima imagem disso. De quem as crianças gostam mais? Quem aparece mais em produtos natalinos? Jesus ou o Papai Noel? Quem é o mais poderoso atualmente? O Deus cristão ou o Deus capitalista?
Natal, assim como todas as datas comemorativas do ano, é apenas mais uma data comercial. A diferença é o 13º salário. Por isso existe o clima natalino, porque é uma época de gastos. A maioria das pessoas tem um troco a mais pra gastar. Então compram suas lembrancinhas, enfeitam suas árvores, compram a geladeira ou a TV nova, e alguns poucos velhos passam o defumador na casa e agradecem a Deus, talvez mais por tradição do que por acreditar mesmo que aquelas "dádivas" vieram do "além". É claro, isto quando lembram de agradecer.
Não tenho a intenção de resgatar o "verdadeiro espírito natalino", até mesmo porque sinceramente nunca acreditei nisso, mas sim de tentar mostrar quão hipócrita isso se mostra em uma sociedade tão decadente como a nossa. Falsos valores, falsos deuses, criados por falsos homens.
Um feliz natal a todos e um próspero ano novo!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O futuro já começou.


Deixando a festividade do título de lado, a questão do tempo sempre foi fundamental no pensamento ocidental. A ponto de Heidegger considerar a possibilidade de esclarecer o sentido do ser através da temporalidade. É, e não é, sobre isto que este rascunho pretende falar.
Não se faz necessário retroceder através da história do pensamento para mostrar os desdobramentos da idéia de tempo através dos diversos pensadores que trabalharam com ela. Basta lembrar que temos sempre a idéia de três modos temporais nos orientando, e que a temporalidade é composta pelos três.
Passado e futuro são, respectivamente algo que não é mais e algo que ainda não é. Ou seja, são em certo ponto modos temporais fora da experiência . Por outro lado, o presente não existe. Ou melhor, só existe como resultado dessa tensão entre a essência e o projeto, passado e futuro. No entanto é o momento fundamental para o homem, pois é nele que se dá a escolha. A nossa maior condição, a liberdade (e a responsabilidade que ela implica), aparece no presente, a cada instante, a cada escolha.
Por questões históricas do momento atual da humanidade e também por aquilo que Heidegger chama de decadência, acabamos por pender para extremos. Quase sempre o que fazemos é orientado para o futuro e esquecemos o momento fundamental de onde esse futuro parte. Várias e várias vezes nos impedimos de experienciar as coisas por medo do grande vilão do amanhã. E esta escolha é uma escolha já feita, porém não por nós mesmos. Só fazemos as coisas como se faz, nos perdendo no "impessoal". Não é que não se deva pensar no futuro, até porque somos projeto também, mas devemos tentar viver as experiências com a consciência de que somos-para-a-morte. Afinal, como diz Vinícius de Moraes: "não se engane não, a vida é uma só". E é este o sentido da angústia em Heidegger: sabermos que somos finitos. É também o problema de Camus: "...em todos os dias de uma vida sem brilho o tempo nos leva. Mas chega uma hora em que temos que levá-lo." Nietzsche: "...sempre há nossos filhos." Sartre, entre outros...
Por outro lado ocorre o desequilíbrio oposto também. A angústia outrora adormecida pelas ocupações com os eternos projetos, de repente aparece. O indivíduo então tem um velamento de seu campo de possibilidades e cai na decadência também. Perde-se no impessoal da mesma forma, pois não sabe lidar com algo assim. Ele passou a vida toda anestesiado e de repente tem que lidar com um vazio que surge do (no) nada. Às vezes é necessário que alguém lhe devolva ao cuidado, às vezes ele encontra seu caminho sozinho, mas nunca é fácil passar por isso. Então ele tenta buscar outras formas de anestesiar-se da existência. Deus, álcool, nicotina, maconha... enfim, qualquer uma destas drogas tem a possibilidade de consumir sua vida de alguma forma.
Neste segundo caso porém, esta angústia pode ser positiva. Já se sente o peso da existência e da responsabilidade como nunca se sentira antes. Este é o primeiro passo. Alguns conseguirão o que o Camus chamaria de permanecer no absurdo. "(o homem) Pode então decidir aceitar a vida em semelhante universo e dele extrair suas forças, sua recusa à esperança e o testemunho obstinado de uma vida sem consolo." É experimentando a liberdade mais real, porém finita, a liberdade de ação, que se pode chegar a essa positividade. Quando se alcança a eterna revolta consciente contra qualquer sentido previamente estabelecido, quando se sente o peso de sua responsabilidade, quando temos a intempestividade em cada escolha, a vida certamente ganha intensidade e profundidade.
Heidegger coloca a decadência como modo de ser do Dasein, pois a cada instante ele é em jogo com seu ser, logo podendo ganhar-se ou perder-se onticamente a vida toda. Mas Nietzsche traz algo de que não podemos esquecer: a vontade. Mesmo nos sabendo errantes em nosso ser mesmo, através da vontade podemos buscar uma vida mais autêntica possível.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Contradição como condição humana e necessária.

Um intelectual certa feita disse: "Somente um idiota não entra em contradição". Gosto muito dessa frase principalmente porque ela expressa justamente a idéia de homem como devir, do Heráclito, tão bela, imponente e mui oportuna em discursos existenciais.

É isso que somos! E de certa forma, ser acaba sendo escolher. Somos o tempo inteiro bombardeados de estímulos que tentam nos determinar, a realidade é resistente, mas no fim das contas, o que fazer com os estímulos é resultado de escolha. Liberdade de escolha.

Escolhemos o que seremos, mas infelizmente não escolhemos se vamos obter tal possibilidade. Ou melhor, felizmente! A psicanálise diz que a falta é constitutiva e necessária. De maneira mais ampla o discurso de Albert Camus a respeito do absurdo da existência é praticamente isso. Afinal se a razão humana pudesse dar conta de tudo, ou se a vida tivesse um manual de instruções, não nos deixando a mínima possibilidade de escolher ou dar sentido às coisas, algo como ser humano, da forma como conhecemos não duraria 5 minutos vivo. O melhor é que isto é contraditório!

O irônico é que atualmente se fala muito em humanização. E os grandes sábios da ciência naturalista experimental parece que ainda não se deram conta de que desde a de-cisão de ver o homem como res cogitans e res extensa o homem vem pendendo pro lado da res extensa há mais de 4 séculos. Se bem que res cogitans por si só já é um nome reprovável pra definir o espírito humano. Mas que é o espírito humano senão contradição? A objetividade do cientista não o permite ver isso.

Apesar de todas as tentativas de resgatar o espírito humano, somente na fenomenologia e, seus desdobramentos, temos uma revolução de fato neste sentido. Diria que mais em seus desdobramentos por Husserl ainda manter certa cisão numênica na realidade, e certo idealismo racionalista. De certa forma, esta aparente contradição que temos na fenomenologia husserliana é necessária.

Tendo Husserl como mestre e utilizando a fenomenologia em outra esfera, Heidegger é considerado por muitos o último grande filósofo alemão. E talvez quem levou mais a fundo essa idéia de mostrar pro homem quão distante está de si e do mundo e como ocorre o distanciamento. Mas mesmo Heidegger também parece ter uma certa contradição. Ao tentar chegar a algo tão imediato, tão fundamental, ele precisou usar de categorias ontológicas, por mais originais que fossem suas utilizações em sua filosofia. Mas isto não é uma crítica. Pelo contrário! Esta contradição não é burra como a de um advogado inexperiente, ou de algum falso intelectual. Esta contradição foi necessária, e seu objetivo nobre a justifica, assim como no caso de seu mestre. Não se tem como ser perfeitamente objetivo falando de algo que é perfeitamente (e maravilhosamente) contraditório como aquele que é em jogo com seu próprio ser.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ilusão etílica

Quando se fermenta amor,
Envelhece o rancor,

ódio, não mais se destila.
Vício maior de quem bebe
é embriagar-se de mentira.