terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quem sou eu.

Segundo a propaganda do canal Futura até hoje os filósofos tentam responder quem somos. E não é à toa. Martin Heidegger nos mostra como estamos distante, e ao mesmo tempo tão próximos da questão do sentido do ser. Próximos porque segundo ele, em Ser e Tempo, nós, sendo, já nos movemos em uma compreensão pré-ontológica do ser. Distantes porque aos nos orientarmos para esta compreensão tendemos a categorizar o ser, entificá-lo, num outro movimento que nos é próprio de compreender o mundo em determinado modo temporal, o presente, ou seja de apreender o mundo enquanto presença. E assim nos vemos a nós mesmos. Nós que de certa forma somos privilegiados por essa capacidade de compreensão e abertura, nos vemos a partir das coisas. Tentamos dar uma explicação sobre nós mesmos como explicamos cálculos algébricos ou os movimentos tectônicos. Engessamos nossas possibilidades submetendo-nos a nexos de causalidade que aplicamos à natureza. Criamos um 'eu' que julgamos conhecer, como se fosse o nosso no meio de vários outros 'eus' que existem por aí pelo mundo, querendos nos retirar de nós mesmos e queremos justificar essa nossa pretensão cartesiana achando que a consciência principia com a auto-consciência.
Pensemos. Temos uma relação primeira com o mundo porque já, a cada instante, somos-no-mundo, transcendendo-o, mas ao nos voltarmos para os objetos, apreendemo-los como presença em nosso modo próprio de conhecer. Onticamente nos aproximamos, ontologicamente nos afastamos. Constituímos nossa consciência a partir desse mundo, dos objetos, dos quais nos afastamos ontologicamente ao apreendê-los. Então é no mínimo pretensioso querer dar uma resposta definitiva a questão de 'quem somos nós'.

Para responder uma questão como essa (se é que é possível responder) seria necessário no mínimo, para ser honesto, uma reflexão sobre as raízes em que estão sustentadas as nossas formas de compreender o mundo. Fazer o tal movimento regressivo de investigação das raízes de uma tradição que encobre-se a si mesma. Podemos considerar tal missão infrutífera em nosso pragmatismo pós-moderno, mas observando a realidade humana cotidiana só se chega à conclusão de que é necessário resgatar o pensamento.