sábado, 21 de fevereiro de 2009

Arnaldo Jabor emburrecendo calouro

Não costumo postar coisas que outras pessoas escrevem, mas ao encontrar esta desprezível e fétida composição (em decomposição) de Arnaldo Jabor num certo perfil de orkut de um(a) calouro(a) UFMA-2009, me bateu certo nojo (sempre que penso nisso sinto nojo, na realidade) do sistema educacional tecnicista cartesiano do mundo ocidental que projeta sujeitos numa ordem de alienação como se fossem meras engrenagens de um sistema, como se fossem coisa.
Gostaria de dizer que acho Arnaldo Jabor fenomenal, mesmo quando não concordo com o que ele pensa, mas não posso fechar os olhos para este momento infeliz que o fez escrever tal asneira. O mundo já está corrompido por esse sistema que nos torna robôs individualistas completamente embecilizados, aí vem um cara e diz pras pessoas sorrirem e acharem tudo muito maravilhoso, entregar os problemas na mão de Deus, se casarem com pessoas que riem, etc.? Pode até não ter sido intencional, mas este texto é pra emburrecer as pessoas e fazerem com que elas não se percebam no ninho de cobras da vida neste mundo em que estão, no fracasso da humanidade, no hedonismo material que empobrece as relações, enfim, ridículo. O mundo está se tornando cada vez mais insuportável pra mim devido a dificuldade de encontrar alguém que pense, simplesmente pense, sobre qualquer coisa, boa ou ruim, concorde ou não comigo, mas que pense.
Ao contrário do que possa parecer, eu não sou comuna, eu não quero salvar o mundo, mas seria interessante que as pessoas dedicassem pelo menos uma hora do seu dia à reflexão. Sobre qualquer coisa: política, economia, ciência, escritos bíblicos, etc., mas que pensassem a respeito. Talvez nem tudo esteja perdido, mas não vou estar aqui mesmo pra descobrir...
Agora o que todos esperavam: o texto idiota do Jabor.

SEJA UM IDIOTA - Arnaldo Jabor

A idiotice é vital para a felicidade.
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre.
Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado?
Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.
No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota!
Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você.
Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele.
Pobre dele.
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro,sexo,sincronia, mas pela ausência de idiotice.
Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.
Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça? hahahahahahahahaha!...
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana?
Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas.
E daí, o que elas farão se já não têm por que se desesperar?
Desaprenderam a brincar.
Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa. Dura, densa, e bem ruim.
Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva. Pule corda!
Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.
Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.
Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.
Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras.
Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir... Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios".
"Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche".

O que aparenta é que a responsabilidade faz mal à vida. Acho que por ele querer que os brasileiros realmente assumam sua condição de povo alegre, sorridente e que não pensa nos problemas. Não pensa, melhor dizendo...
Pode aparecer alguém dizendo que eu estou exagerando, mas acho que num país como o Brasil, publicar-se um texto desse é no mínimo irresponsabilidade. Talvez se fosse na Rússia ou na Inglaterra, fosse pelo menos aceitável.
Quem quiser ser idiota, que não me convide.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Vontade de poder e Angústia: condições humanas?

Não se deve esperar muito desse post pois minha leitura em Nietzsche é meio fraca.
Mas em suma, surgiu numa bebedeira, depois de muitos devaneios, uma discussão à respeito da categorização da vontade de poder como condição humana, tal qual a angústia.
Em Kierkegaard, e em outros autores existencialistas, a angústia pode ser tida como condição humana pois, independente da situação em que o indivíduo esteja lançado no mundo, uma hora ele deverá sentir a angústia, ou seja, ela é universal.

A angústia, como meus amigos filósofos do grupo de estudo em Heidegger puderam perceber, não tem como ser conceituada, apesar de que deve ser sentida por todos. Na literatura existencialista de modo geral, ela surge a todo instante, toda vez que escolhemos (e estamos sempre escolhendo). A cada escolha que fazemos há uma renúncia, e isso nos angustia ao escolher. "Por que fizemos tal coisa, e não outra?", sempre nos perguntamos, e é esse questionamento, decorrente da nossa capacidade de significar a existência e de nos projetar no futuro que faz surgir tal "sentimento".

Tendo em vista essa universalidade da angústia, me questionei, juntamente com Márcio Cleyton Greyck Clapton, se há a possibilidade da vontade de poder nietzscheana se encaixar nesta categoria de condição humana. Afinal a angústia nos move, isto é fato. Mas será que não existe algo de vontade, no sentido de poder, de ter, inerente às escolhas tal qual a angústia?

Na visão de Nietzsche, na Gaia Ciência, há uma relação entre o ter e o ser. Pode-se questionar se a liberdade sartreana de escolha não teria, na individualidade e subjetividade que constituem o indivíduo, certo "direcionamento existencial", no sentido de ser algo transcendente à própria compreensão dele da escolha e de seu projeto, talvez algo próximo de uma "particularidade" do dasein, aproximando à teoria heideggeriana. Seria algo que nos movimenta tal qual à angústia, algo que nos leva ao sentido de ser, porém de uma posse desse ser, de ter um ser, mesmo que nunca alcancemos essa possibilidade.
Uma possível problemática dessa questão talvez esteja em buscar fundamentar o ser deste ter numa ontologia fenomenológica, tal qual o Sartre faz com o ser do conhecimento em "O Ser e o Nada". Pois queremos sempre ter um ser, estamos sempre em busca de possuí-lo para compreendê-lo, mas como nosso modo de ser é ser-para-vir-a-ser, tudo desaba no efêmero e num nada de possibilidades, nos impedindo de concluir esse nosso projeto. Ou não! Talvez no próprio Nietzsche abandone-se esta relação entre o ser e o ter ou ainda talvez se aprofunde ainda mais. Descobrirei futuramente.

Os husserlianos/sartreanos/heideggerianos/etc. podem ficar de cabelo em pé com esta suposição, afinal creio estar entrando em oposição a alguma coisa dessas teorias, além de as estar misturando um pouco. Mas há de se reconhecer que há certa coerência para um graduando em psicologia interessado em estudos filosóficos.

Postei esse devaneio porque além de ter prometido ao meu amigo Márcio que o faria, acho que em minhas leituras em Nietzsche e Sartre, ou em algum argumento indubitável que alguém porventura lance, descobrirei a resposta da questão.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Breve crítica ao modelo cartesiano e suas implicações à visão de homem sob a perspectiva fenomenológica

Ando meio sem insights, inspiração, idéias, etc. pra postar.
O texto seguinte foi feito com pressa numa tarde tempestuosa e estressante de uma sexta-feira, último dia de aula que tive antes das férias.
Quem quiser tiver coragem de ler, tenha isso em mente:

Durante a crise da Idade Média, a igreja perdeu seu domínio sobre o conhecimento. Esta perda de força da verdade divina está relacionada a diversos fatores históricos como as péssimas condições sociais vivida pelas pessoas em decorrência da disparidade entre os recursos econômicos e o crescimento populacional, além da opressão da igreja, somadas a outros fatores, que fizeram com que o homem voltasse o olhar para si mesmo e buscasse em si o conhecimento do mundo. 

Talvez o maior divisor de águas entre esse antigo sistema religioso e o advento da razão tenha sido René Descartes. O filósofo francês moderno, apesar de ainda ligado à idéia de um ser divino, inaugura um modelo de pensamento que sustenta até hoje a espistemologia na civilização ocidental em todas as áreas de conhecimento. Este modelo desenvolvido por ele dá um caráter universal à forma de perceber o mundo por proposições lógicas e racionais, ou seja, o homem, tido por ele como res congitans (substância pensante), só pode acessar o conhecimento verdadeiro do mundo através de proposições pautadas exclusivamente em juízos objetivos conduzidos pelo método.

Essa infalibilidade da razão dada na modernidade foi repensada posteriormente por muitos filósofos. Por exemplo, Henri Bérgson, ao falar sobre a vivência do indivíduo, de algo que é da experiência individual e escapa à razão. Tem-se também o Dilthey que enfoca outra forma de lidar com os fenômenos, através de uma compreensão, um entendimento, abrindo outra possibilidade para as ciências sociais que não fosse a explicação interpretativa que é o método das ciências da natureza. Enfim, Berkeley, Leibiniz, Kant, Hegel e Husserl. Este último como mentor da fenomenologia, portanto de maior relevância para esta problemática. 

E. Husserl, matemático e filósofo alemão, quis criar uma ciência de rigor que embasasse todo o conhecimento. De certa maneira retorna ao modelo cartesiano e vai buscar nele próprio, outra possibilidade de conhecimento para o homem. Ele utiliza o argumento do cogito para a criação do seu método de investigação: o método fenomenológico. Neste método, o indivíduo não irá duvidar do que conhece como no modelo cartesiano, mas sim, colocar “em suspensão” seus possíveis juízos impregnados de abstrações, ou seja, tentará perceber a realidade sem qualquer pressuposto ou pré-julgamento. Isto se torna o cerne de seu pensamento, pois Husserl acredita que se deve “voltar às coisas mesmas”. Ele queria justamente retirar toda a densidade que era conferida ao mundo pelos naturalistas, como se este fosse um objeto o qual nós jamais poderemos conhecer em sua essência de fato. 

Os naturalistas acreditam que existe uma natureza dada à priori em relação a nossa consciência e por esta crença cortam a relação existente entre consciência e mundo. Este segue sua suposta dinâmica natural independente da consciência, sendo a missão desta apenas buscar explicações para os movimentos naturais desse mundo. Husserl retoma de certa forma a idéia de Berkeley (esse est percipi) e considera o mundo como existente somente em relação a uma consciência, aproximando-se mais mesmo do conceito de consciência posicional de Brentano com quem teve muito contato. Não há uma evidência de que as coisas realmente existam no corte da relação com a consciência, pois esta é nossa única possibilidade de conhecer. 

Toda a densidade concedida ao objeto, todo este enfoque preconizado pela atitude natural, aliena nossa visão da essência do que aquele objeto de fato é, implicando que os naturalistas, na realidade, talvez não estivessem preocupados com a verdade, mas sim em buscar em relações causais uma forma de apreender o mundo em abstrações e juízos, para tentar dominá-lo. 

Este método naturalista foi erroneamente levado pras ciências humanas, acabando por tornar objeto algo que a razão não tem como dar conta que é a ação humana. Como conseqüência o agente dessas ações, o próprio homem, acabou tido como objeto, aquela coisa pensante da qual falava Descartes. Além disso, o homem é visto através de uma fragmentação de sua condição humana, que também é preconizada pelo método descartiano. 

Husserl vai tentar devolver esse homem à sua totalidade e percebê-lo como ele de fato é, em essência, através do método fenomenológico, que visa perceber o fenômeno como ele se apresenta à consciência. O homem será visto não mais somente pela via da razão como outrora, mas sim como um sujeito que dá significação ao mundo e, na realidade lhe confere existência. Um ser que tem algo de transcendental, algo que escapa às possibilidades de uma previsão de um modelo causal. Uma consciência singular que é sempre movimento (um transcender-se), dotada de subjetividade e que não tem como ser determinada por relações causais, pois é sempre possibilidade. Ele resgatará também o conceito de compreensão de Dilthey, pois este homem tem uma vivência que não pode ser explicada, mas sim, deve ser compreendida.

Este movimento da fenomenologia ainda não atingiu a potencialidade que deve ser atingida em nossa sociedade individualista. O homem ainda é visto como “coisa” quase em todas as áreas do conhecimento, e isso lhe retira seu caráter humano tentando torná-lo apenas mais uma engrenagem de um sistema, sem levar em consideração outros aspectos da totalidade de sua vida como seus sentimentos, seus medos, suas angustias, etc. Talvez em conseqüência, disso alguns estudos apontem a depressão como a doença do século XXI, pois as relações humanas estão prejudicadas por estarem submetidas ainda à noção coisificadora provocada pelo modelo racional.