Mas em suma, surgiu numa bebedeira, depois de muitos devaneios, uma discussão à respeito da categorização da vontade de poder como condição humana, tal qual a angústia.
Em Kierkegaard, e em outros autores existencialistas, a angústia pode ser tida como condição humana pois, independente da situação em que o indivíduo esteja lançado no mundo, uma hora ele deverá sentir a angústia, ou seja, ela é universal.
A angústia, como meus amigos filósofos do grupo de estudo em Heidegger puderam perceber, não tem como ser conceituada, apesar de que deve ser sentida por todos. Na literatura existencialista de modo geral, ela surge a todo instante, toda vez que escolhemos (e estamos sempre escolhendo). A cada escolha que fazemos há uma renúncia, e isso nos angustia ao escolher. "Por que fizemos tal coisa, e não outra?", sempre nos perguntamos, e é esse questionamento, decorrente da nossa capacidade de significar a existência e de nos projetar no futuro que faz surgir tal "sentimento".
Tendo em vista essa universalidade da angústia, me questionei, juntamente com Márcio Cleyton Greyck Clapton, se há a possibilidade da vontade de poder nietzscheana se encaixar nesta categoria de condição humana. Afinal a angústia nos move, isto é fato. Mas será que não existe algo de vontade, no sentido de poder, de ter, inerente às escolhas tal qual a angústia?
Na visão de Nietzsche, na Gaia Ciência, há uma relação entre o ter e o ser. Pode-se questionar se a liberdade sartreana de escolha não teria, na individualidade e subjetividade que constituem o indivíduo, certo "direcionamento existencial", no sentido de ser algo transcendente à própria compreensão dele da escolha e de seu projeto, talvez algo próximo de uma "particularidade" do dasein, aproximando à teoria heideggeriana. Seria algo que nos movimenta tal qual à angústia, algo que nos leva ao sentido de ser, porém de uma posse desse ser, de ter um ser, mesmo que nunca alcancemos essa possibilidade.
Uma possível problemática dessa questão talvez esteja em buscar fundamentar o ser deste ter numa ontologia fenomenológica, tal qual o Sartre faz com o ser do conhecimento em "O Ser e o Nada". Pois queremos sempre ter um ser, estamos sempre em busca de possuí-lo para compreendê-lo, mas como nosso modo de ser é ser-para-vir-a-ser, tudo desaba no efêmero e num nada de possibilidades, nos impedindo de concluir esse nosso projeto. Ou não! Talvez no próprio Nietzsche abandone-se esta relação entre o ser e o ter ou ainda talvez se aprofunde ainda mais. Descobrirei futuramente.
Os husserlianos/sartreanos/heideggerianos/etc. podem ficar de cabelo em pé com esta suposição, afinal creio estar entrando em oposição a alguma coisa dessas teorias, além de as estar misturando um pouco. Mas há de se reconhecer que há certa coerência para um graduando em psicologia interessado em estudos filosóficos.
Postei esse devaneio porque além de ter prometido ao meu amigo Márcio que o faria, acho que em minhas leituras em Nietzsche e Sartre, ou em algum argumento indubitável que alguém porventura lance, descobrirei a resposta da questão.
2 comentários:
Eu ainda acho que essa parada de vontade de poder me cheira a uma especie de conatus metafísico,.Mas só acho.
Volto a dizer que eu apenas não tenho ainda recursos para fundamentar o ser desse "conatus" pra mostrar sua incompatibilidade com este conceito.
Talvez quando atingir tais recursos abandone a idéia... Ou não! Talvez eu consiga elucidar melhor a questão... Ou não!
Pode ser também que eu não consiga estar sendo claro no que quero dizer, ou até mesmo em não estar fundamentando uma condição humana...
Enfim, somos seres de possibilidades! auheheaauhehua!
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