Segundo a propaganda do canal Futura até hoje os filósofos tentam responder quem somos. E não é à toa. Martin Heidegger nos mostra como estamos distante, e ao mesmo tempo tão próximos da questão do sentido do ser. Próximos porque segundo ele, em Ser e Tempo, nós, sendo, já nos movemos em uma compreensão pré-ontológica do ser. Distantes porque aos nos orientarmos para esta compreensão tendemos a categorizar o ser, entificá-lo, num outro movimento que nos é próprio de compreender o mundo em determinado modo temporal, o presente, ou seja de apreender o mundo enquanto presença. E assim nos vemos a nós mesmos. Nós que de certa forma somos privilegiados por essa capacidade de compreensão e abertura, nos vemos a partir das coisas. Tentamos dar uma explicação sobre nós mesmos como explicamos cálculos algébricos ou os movimentos tectônicos. Engessamos nossas possibilidades submetendo-nos a nexos de causalidade que aplicamos à natureza. Criamos um 'eu' que julgamos conhecer, como se fosse o nosso no meio de vários outros 'eus' que existem por aí pelo mundo, querendos nos retirar de nós mesmos e queremos justificar essa nossa pretensão cartesiana achando que a consciência principia com a auto-consciência.
Pensemos. Temos uma relação primeira com o mundo porque já, a cada instante, somos-no-mundo, transcendendo-o, mas ao nos voltarmos para os objetos, apreendemo-los como presença em nosso modo próprio de conhecer. Onticamente nos aproximamos, ontologicamente nos afastamos. Constituímos nossa consciência a partir desse mundo, dos objetos, dos quais nos afastamos ontologicamente ao apreendê-los. Então é no mínimo pretensioso querer dar uma resposta definitiva a questão de 'quem somos nós'.
Para responder uma questão como essa (se é que é possível responder) seria necessário no mínimo, para ser honesto, uma reflexão sobre as raízes em que estão sustentadas as nossas formas de compreender o mundo. Fazer o tal movimento regressivo de investigação das raízes de uma tradição que encobre-se a si mesma. Podemos considerar tal missão infrutífera em nosso pragmatismo pós-moderno, mas observando a realidade humana cotidiana só se chega à conclusão de que é necessário resgatar o pensamento.
3 comentários:
ah, vinícius! eu venho aqui constantemente saber das novidades (no que você anda pensando, pra falar a verdade), e esse teu post me deixou deprimida... e aí me veio na cabeça, dentre outras coisas, uma crônica que li num livro da clarice (tinha de ser, hahaha) que se a gente não tomar cuidado a gente vira um 'número' até pra si mesmo (sobre o lance da coisificação e talz)... é muuito fodaa... às vezes axu ke é por isso que a maioria das pessoas prefere não enxergar e viver sob essa tal da impropriedade (ke tu tanto fala), achando que sabem de de si mesmas e que tem as respostas... pq a gente se dar conta que não sabe é de porra nenhuma, que tah tudo virado do avesso, e que a gente é um bando de babaca é fooooda demais... e eu nunca me senti tão idiota e tão burra em toda a minha vida! ah, tô viajando... porra vinicius, vlw! =P
Ah, e esse negócio do ôntico e do ontológico deu um nó na minha cabeça quando li aquelelivrinho do joão penha... vendo na net umas coisas eu entendi que o ontológico é que estuda o 'ser enquanto ser', ser total, tomado na sua universalidade (e não uma parte do ser, como as ciências exatas)... mas, é isso mesmo? e o ôntico? é o contrário? não consegui entender muito bem!! ¬¬'' aff, que estress! depois tu me explica, hauahuahuaha =P... Ah, ó um trechinho do texto da Clarice: 'Vamos ser gente, por favor. Nossa sociedade está nos deixando secos como um número seco, como um osso branco seco exposto ao Sol. Meu número íntimo é 9. Só 8. Só 7. Só. Sem somá-los nem transformá-los em novecentos e oitenta e sete. Estou me classificando com um número? Não, a intimidade não deixa. Veja, tentei várias vezes na vida não ter um número e não escapei. O que faz com que precisemos de muito carinho, de nome próprio, de genuinidade.' HuahUAHua... Só pq eu sei que tu não gosta dela... Te mostro inteiro depois... ;D beijoo... ;***
ah, tá.
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