Um intelectual certa feita disse: "Somente um idiota não entra em contradição". Gosto muito dessa frase principalmente porque ela expressa justamente a idéia de homem como devir, do Heráclito, tão bela, imponente e mui oportuna em discursos existenciais.
É isso que somos! E de certa forma, ser acaba sendo escolher. Somos o tempo inteiro bombardeados de estímulos que tentam nos determinar, a realidade é resistente, mas no fim das contas, o que fazer com os estímulos é resultado de escolha. Liberdade de escolha.
Escolhemos o que seremos, mas infelizmente não escolhemos se vamos obter tal possibilidade. Ou melhor, felizmente! A psicanálise diz que a falta é constitutiva e necessária. De maneira mais ampla o discurso de Albert Camus a respeito do absurdo da existência é praticamente isso. Afinal se a razão humana pudesse dar conta de tudo, ou se a vida tivesse um manual de instruções, não nos deixando a mínima possibilidade de escolher ou dar sentido às coisas, algo como ser humano, da forma como conhecemos não duraria 5 minutos vivo. O melhor é que isto é contraditório!
O irônico é que atualmente se fala muito em humanização. E os grandes sábios da ciência naturalista experimental parece que ainda não se deram conta de que desde a de-cisão de ver o homem como res cogitans e res extensa o homem vem pendendo pro lado da res extensa há mais de 4 séculos. Se bem que res cogitans por si só já é um nome reprovável pra definir o espírito humano. Mas que é o espírito humano senão contradição? A objetividade do cientista não o permite ver isso.
Apesar de todas as tentativas de resgatar o espírito humano, somente na fenomenologia e, seus desdobramentos, temos uma revolução de fato neste sentido. Diria que mais em seus desdobramentos por Husserl ainda manter certa cisão numênica na realidade, e certo idealismo racionalista. De certa forma, esta aparente contradição que temos na fenomenologia husserliana é necessária.
Tendo Husserl como mestre e utilizando a fenomenologia em outra esfera, Heidegger é considerado por muitos o último grande filósofo alemão. E talvez quem levou mais a fundo essa idéia de mostrar pro homem quão distante está de si e do mundo e como ocorre o distanciamento. Mas mesmo Heidegger também parece ter uma certa contradição. Ao tentar chegar a algo tão imediato, tão fundamental, ele precisou usar de categorias ontológicas, por mais originais que fossem suas utilizações em sua filosofia. Mas isto não é uma crítica. Pelo contrário! Esta contradição não é burra como a de um advogado inexperiente, ou de algum falso intelectual. Esta contradição foi necessária, e seu objetivo nobre a justifica, assim como no caso de seu mestre. Não se tem como ser perfeitamente objetivo falando de algo que é perfeitamente (e maravilhosamente) contraditório como aquele que é em jogo com seu próprio ser.
Um comentário:
quero só ver se não vai ter dedicatória pra mim quando tu publicar teus textos...
isso se eu não aparecer como colaboradora...
Aquela que te instiga a escrever contra o Behaviorismo!!
hauhauhauahua...
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