quarta-feira, 24 de março de 2010

Ditadura da saúde.


O homem sempre desejou ser eterno e a técnica hoje propicia uma qualidade de vida sem precedentes na história da humanidade. Mas que qualidade e que vida seriam essas? Quer dizer, qual o preço dessa busca pela fonte da juventude?

Com o dilúvio de informações do nosso tempo, as pessoas tem a necessidade de estarem conectadas sempre com as últimas novidades do que acontece no mundo. Por questões mesmo de sobrevivência, afinal o mercado de trabalho é dinâmico e seguiu o ritmo das mudanças ocorridas se tornando bem mais rígido.

Mais rígidos também se tornaram os padrões estéticos, pois aquela atriz magrinha e bonita que aparece na TV já deixou o segredo de sua "Boa Forma" em alguma revista ou site por aí. O bombadão da novela das oito que aparece semi-nu lembra aos homens todo dia daquela quase nem sempre discreta barriguinha de chopp (e às suas respectivas companheiras também).

Tem ainda a questão do envelhecimento. "Envelheça com saúde", "Conheça os milagres da dieta de grãos", "Os benefícios da ração humana". Todos os dias aparecem dicas de saúde em todos os veículos de informação e as pessoas neste afã de se tornarem jovens para sempre, se submetem a todo tipo de "tortura". Quando o desejo de prolongar a vida se torna mais importante que vivê-la, o vazio é inevitável.

Criou-se na atual sociedade uma verdadeira "ditadura da saúde". Os jovens que estão mais suscetíveis aos estímulos da nova era são a principal vitrine dessa pressão toda. É a juventude do exagero. Ou a menininha fica anorexa de tanto comer folha, ou o rapazote fica burro e doente de tanto anabolizante pra pelo menos parecer saudável. O importante é a forma independente do conteúdo. Temos também as drogas que estão chegando cada vez mais cedo na vida deles e em um nível de consumo cada vez mais alto.

A "ditadura da saúde" está diretamente vinculada às restrições e imposições que até agora só tem surtido efeito contrário. Algo para se refletir é o caso dos Estados Unidos na época em que foi proibida a comercialização e o consumo de álcool. Surgiu um verdadeiro mercado negro que rendeu muito dinheiro aos que praticavam este comércio então excuso e muita violência pra todo povo americano. A saída para o governo foi legalizar o consumo novamente para conter o problema. No Brasil, onde a ignorância e a corrupção predominam, está começando um movimento de proibição de tudo. Em muitas cidades os lugares não podem funcionar depois de determinado horário e não se pode mais fumar em lugar nenhum. Tudo isso com o intuito de diminuir uma violência que é consequência de diversos outros fatores que não a diversão noturna. Apesar de não ser muito adequado o palavreado científico, mais uma vez estão tentando atacar diretamente o problema em vez de suas causas.

E assim continuamos nossas vidinhas medíocres. Seguindo receitas de bolo de "como ser feliz" que surgem a todo instante, tornando-nos Barbie's e Ken's do modelo imposto, aderindo a um moralismo hipócrita e absurdo, fazendo cara feia pros fumantes no ponto de ônibus (onde praticamente não existe fumaça), indo em busca de ideais vendidos que nos deixam incapacitados de fazer qualquer juízo crítico, enfim, abrindo mão de nossas escolhas e consequentemente de nossa condição humana.

Então o "viver com qualidade" não é comer ração humana, nem precisa ser uma diária tentativa de suicídio. Só precisamos tentar ser conscientes de que nós damos sentido a nossa existência e essa responsabilidade ninguém nos tira, nem teria como. Então por mais que hajam dicas de um modelo de felicidade, devemos lançar um olhar a partir de nossa vivência do sentido que aquilo possa ou não fazer pra gente. Porque "...a vida é pra valer e não se engane não é uma só. Duas mesmo que é bom ninguém vai me dizer que tem sem provar muito bem provado com papel passado em cartório do céu e assinado embaixo: 'Deus', e com firma reconhecida", como dizia o poeta Vinícius de Moraes em seu Samba da Benção.

As determinações sempre estão aí, mas o que fazer com elas é escolha nossa.

3 comentários:

Mara disse...

"Quando o desejo de prolongar a vida se torna mais importante que vivê-la, o vazio é inevitável."

Falou e disse :)
adimirei!

Lorenna disse...

Eu vou achar é graça quando a cara de nego começar a derreter de tanto creme com nanotecnologia.
Esse povo nem sabe as conseqüências desse way of living e prefere nem saber enquanto estiverem pegando gatinhos na balada.
Enfim, mE aDdXi No SeU bLog, MiGuXo?

Lorenna disse...

Ps: fico felizinha quando vejo que tu curtiu a foto que eu tirei de ti ^^ Geralmente tu faz o maior mimimi pra foto! riri