terça-feira, 11 de novembro de 2008

Tentativa de produção de crítica à sociedade Nº2 - Aos religiosos das ciências.

Ontem me ocorreu algo nunca até então imaginado: Por que a razão seria fonte da verdade e, nos despindo de nossa sensibilidade, nós poderíamos alcançá-la, se tanto a razão quanto a sensibilidade são parte do nosso "modo humano de ser" (utilizando um conceito heideggeriano)? Note-se que mesmo o mais objetivo dos métodos (se este fosse possível existir), ainda assim seria passível de questionamento, pois mesmo ele seria criação humana, a razão que tentamos utilizar como neutra é humana, portanto nao deve ser endeusada a ponto de nos fazer querer deixar de ser humanos.

Se se pára pra pensar um pouco e lembrar das velhas aulas de filosofia e história, talvez se encontre uma certa razão para esta crença na verdade pela via da razão. A sistematização de idéias para a busca de respostas às questões humanas, digamos filosofia, existe há um bom tempo, porém deve-se lembrar que ao longo do tempo o modelo de conhecimento foi se alterando, passando do cosmos, à natureza, às divindades, e, na modernidade, à razão.

Pensando na parte histórica da coisa, devemos admitir que o momento daquela sociedade propiciou esse advento da crença na razão pois se vivia uma crise social, econômica e política, a verdade divina já não era suficiente pra dar conta de explicar a realidade que se tornava cada vez mais difícil, e a igreja que cobrava valores cada vez mais altos de impostos, não era mais bem vista. Foi uma fase de retorno ao homem no sentido de buscar nele próprio, e não mais em Deus, as respostas para a humanidade.

Neste contexto havia de se buscar uma nova crença. Um pensamento para substituir a verdade divina, e então surge um sujeito que supõe a idéia de que algo puro nos foi dado por Deus, algo que é tão indubitável quando o próprio Deus, e que nos permite conhecer: a razão, o cogito. Isto ganhou proporções gigantescas na história do pensamento humano e até hoje é a principal base de sustentação da precária "civilização" humana, e de tal modo que se tornou tão inquestionável quanto o Deus medieval.

Infelizmente este modelo de pensamento que persiste até os dias atuais ao longo do tempo foi tomando certas proporções desumanizadoras. O caráter objetivo do método, que visa eliminar nossa subjetividade da análise do objeto, faz com que nós queiramos nos libertar de algo que nos constitui como humanos, sendo que até mesmo as idéias de método e objetividade são decorrentes do nosso modo humano de ser, na medida que nós somente conhecemos como nos é possível conhecer, como somos-para-conhecer, pegando emprestada a idéia do Dasein de Heiddeger.

Em termos práticos, é possível notar em nossa sociedade os avanços e os problemas gerados por essa desumanização preconizada pelo método. Se de um lado temos grandes avanços na medicina e na física, por outro temos uma sociedade orientada para viver para o consumo sem questionar, ate mesmo sem amar, medicos que tratam seus pacientes como se fossem os bonecos ou cadaveres onde ele aprendeu aquela complicada e enfadonha arte, sem dar qualquer consideração ao fato de que está lidando com um humano, um existente como ele, temos uma certa desvalorização da arte, quando percebemos a desvalorização do próprio artista (humano), e temos a mais grave outrora comentada por mim: a desvalorização do pensamento, pois a sociedade só valoriza o ensino técnico, metodológico.

Há um movimento, dentre outros talvez, na tentativa de resgatar o modo de ser do homem, o existencialismo, que tem como fundamentação a fenomenologia. É importante dizer que mesmo em Descartes a subjetividade e a liberdade humana estão presentes, mas só posteriormente ganharam ênfase na filosofia ocidental, principalmente nas idéias fenomenológicas e existencialistas. Espero ainda poder alcançar as transformações sociais e tecnológicas que estas correntes de pensamento talvez venham a atingir futuramente. Já podemos notar em algumas áreas a influência dessas idéias, como por exemplo na psicologia, com a clínica fenomenologica-existencial e, na esfera da saúde, no movimento de humanização das profissões destas áreas que vem sendo discutido nas academias.

Um comentário:

Lorenna disse...

Um santo com o teu sobrenome fala mais ou menos dessa dicotomia da razão/emoção humana....
Mas não sei como tu ainda escreve sobre isso, se tu é um dos mais racionais que eu conheço.
Agora pra ser sincera, minha cabeça doeu...TU É MUITO CULT MEIXMO!
usahusahushaushuasa
beijosmeligateamotocomsaudades