segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Deus é neurótico: imagem e semelhança dos homens.


Sem querer entrar em detalhes quanto à forma como as religiões podem ter se estabelecido, desta ou daquela maneira, a afirmação do título pode ser confirmada quando se pensa que Deus nos deu o livre-arbítrio para escolhermos amá-lo. Ora, se ele quisesse realmente que o amássemos, não teria nos dado o livre-arbítrio. Esta é a NOSSA forma de construir um deus, partindo do nosso modo de se sentir em relação ao mundo e às pessoas.

Pensemos na ideia de um ser superior, sem começo nem fim, todo-poderoso, totalmente bom (o que conflitua com a ideia de todo-poderoso), que ama seus filhos e quer ser amado por eles também. Se ele realmente "desejasse" isso, e não somente quisesse, nos teria feito com a única opção de amá-lo.

Parece que Deus precisa que lhe demos a falta. Bem aí surge um conflito: Deus não pode ser faltoso. Então por que precisamos amar a Deus ("sobre todas as coisas")? Por que ele quer o nosso amor para nos congratular com um lote no cantinho do céu?
O Deus que criamos é neurótico! Nós o fizemos faltoso e sintomático. Ele ao mesmo tempo que precisa que o amemos, não nos fez assim, porque é sintoma aquilo que o impede de chegar ao seu desejo. Ele precisa ficar no imaginário, esperando que o escolhamos. Ele precisa não saber, ele precisa do não-saber, da falta. Parece que ele sabe dos possíveis efeitos de uma satisfação total.

Seria muito fácil para ele nos fazer amá-lo ao nos criar, mas ele não se sentiria amado "de verdade". E este é outro ponto onde colocamos algo nosso nele, pois nós nos sentiríamos mal sabendo que temos o poder de fazer alguém nos amar. Isto pode ser percebido, por exemplo, em relacionamentos onde aquele que gosta "demais" tem que ficar medindo suas atitudes para não assustar o outro, justamente porque esse outro, sabendo do poder que tem para despertar esse grande amor, pode perder o interesse. Há que ter sempre uma dúvida para o neurótico. Ele quer ter notícia, mas não quer esse saber.

Existem outros vários pontos em que a questão pode ser explorada, e se eu não estivesse tão enferrujado nas leituras freudianas de Moisés e o Monoteísmo, ou Totem e Tabu, talvez elaborasse um texto mais contundente. Enfim, a intenção aqui, como no blog de modo geral, é simplesmente rascunhar ideias. Então é isso. Fica a dica dessas leituras (e do Mal-estar na Civilização), para aqueles que se interessem pela visão psicanalítica do social.

Um comentário:

Breno L. disse...

Não somos imagem e semelhança de Deus, Deus é imagem e semelhança nossa. Já refleti sucintamente em meu blog sobre o quão humano é o nosso Deus e, consequentemente, o quão longe da divindade e perfeição ele é. Como dizia meu pai — e continua dizendo — em tom irônico , "Não adianta nada jurar por Deus, pois Deus perdoa tudo".