quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Azar na sorte, jogo no amor... E Psicologia.


Poderia-se dizer que "Azar na sorte, jogo no amor" é a forma abreviada da seguinte poesia de Paulo Leminski, de seu primeiro livro "Distraídos venceremos":

"Sorte no jogo, azar no amor.
De que me vale sorte no amor
Se o amor é um jogo
E o jogo não é o meu forte
Meu amor?"

De uma forma ou de outra é inevitável concordar com a idéia chata de amor como um jogo. Então, pensando dessa forma, vejamos o que algumas das principais abordagens da psicologia dizem sobre isso.

A Análise do Comportamento vê o amor como um comportamento como qualquer outro, logo podendo ser instalado através de esquemas de reforçamento. Ela diz que o esquema que instala o comportamento mais rapidamente é o de reforço contínuo, que expõe o sujeito repetidas vezes seguidamente ao mesmo reforço. Porém, o esquema mais eficaz para manter o comportamento e tornar difícil sua extinção, porém mais demorado, é o de reforçamento intermitente, onde o sujeito é exposto repetidas vezes ao reforço mas de forma alternada com outras contingências reforçadoras ou não dentro do mesmo ambiente. Dessa forma é possível imaginar como existem casais que brigam tanto mas não se separam.

A abordagem existencial-fenomenológica tem uns 50kg de livros e teorias que podem dizer sobre o amor, mas no geral considera-se o amor, assim como outros sentimentos e as emoções, como consciência, logo há intencionalidade e o eterno movimento em direção ao fenômeno de amar. Esta abordagem não tem a pretensão de explicar porque uma pessoa ama outra, mas visa compreender como se dá o fenômeno de amar para o ser amante.

Em Heidegger, o amor pode ser considerado como um humor ao qual o indivíduo se encontra lançado no mundo, mas parece melhor descrição para a paixão, que faz parte do amor. Este está mais relacionado ao cuidado, sendo assunto ôntico de cada um deixar-se levar pelas paixões ou assumir a relação de cuidado com o ser-amado autenticamente.

Em Sartre, pensando na idéia de relação humana como necessariamente conflituosa ("O inferno são os outros), pode-se ser levado a pensar que não há espaço para um amor que não seja egoísta, devido à inevitável sobreposição de projetos. De fato não há como escapar a certa forma de egoísmo mesmo, mas é possível se assumir autenticamente a responsabilidade de amar e de certa forma, escolher como projeto às vezes abrir mão de projetos em benefício do ser amado. Meio que "assumir autenticamente a inautenticidade". Na segunda fase de sua obra ele se volta ao marxismo e de certa forma retorna a uma idéia de Dukheim de que "uma anomia não significa liberdade" dando-lhe uma nova versão. Neste período, Sartre afirma que a forma verdadeira de liberdade é construída através de grupos, de comunidades, num engajamento por uma causa comum. Logo pode-se pensar agora num engajamento de amantes pela causa do amor. Em essência, não mudou muita coisa neste aspecto.

De qualquer forma, pensando na eterna capacidade auto-atualizante da consciência, pode pensar pelo menos porque os seres amantes são tão inconstantes.

Finalmente na psicanálise, temos talvez uma indicação mais precisa sobre este doloroso jogo, na noção de Édipo freudiana, e também na concepção winnicottiana de "mãe suficientemente boa". Em ambas o amor materno é uma espécie de protótipo que guiará toda vida sentimental da estrutura do sujeito na neurose e a falta é o carro-chefe da constituição do sujeito de modo geral.

Em Freud, no Édipo, a mãe tem de oferecer a falta ao filho para que ele possa sair do auto-erotismo e do narcisismo. As ausências da mãe às necessidades da criança em detrimento a outros assuntos de sua vida, que é algo normal, constituem condição necessária para que se instaure a lei e o ser humano entre na neurose. Caso contrário, se ele nega a lei (foraclusão) ou esta lei é "mal-instaurada", tornando-se "frouxa" de alguma forma, o indivíduo entrará na psicose ou na perversão, respectivamente. Conclui-se então que o amor materno está pareado com a falta nos primeiros momentos da constituição da pessoa, tornando esta relação presente pro resto da vida dela. A mãe que ama deve dar amor, mas acima de tudo tem que dar a falta. Um amor assim constituído se reflete naquela idéia que os neuróticos tem de que só valorizam algo depois que perdem.Logo o amor neurótico precisa da falta.

A concepção de Winnicott de "mãe suficientemente boa" é de que esta deve adaptar-se às necessidades do bebê, gerando nele a ilusão de que o seio é uma extensão dele mesmo e que ele exerce um controle mágico sobre este "objeto", para então gradativamente desiludí-lo fazendo-o ter que lidar com a frustração. Desta forma ela lhe proporcionará um desenvolvimento psiquicamente saudável, pois com o auxílio dos "objetos transicionais" este bebê irá desenvolver o conhecimento da diferença mundo interno/mundo externo, chegando assim à realidade. É uma idéia que se aproxima da idéia freudiana, logo esta mãe "ensina" desde cedo também que numa relação saudável deve haver amor e falta.

Destas teorias psicanalíticas então concebemos a relação com a idéia do senso comum de que "ciúme na medida certa faz bem à relação". Afinal nunca há confiança plena, e nosso narcisismo agora latente exige uma exclusividade que nunca saberemos ter plenamente.

De uma forma ou de outra, em qualquer uma dessas teorias há sempre uma abertura para a subjetividade, seja num repertório comportamental, na história de um aparelho psíquico ou num eu consciente. A existência concreta não tem como ser teorizada e cada situação é única. O amor é algo que acontece e o sentido atribuído a ele é sempre uma experiência individual. Zygmunt Bauman acredita que não há como "aprender a amar", logo amor não é treino e não há como "se tornar um amante melhor" pelo simples acúmulo de experiências. Deve-se ter uma "atitude fenomenológica" diante de algo tão belo, contingente e necessário e vivê-lo em todas as suas nuances. Ficar fazendo joguinhos às vezes sufocam uma vivência mais intensa e concreta do amor. Talvez eles sejam necessários, mas tudo e todos têm sua medida.

7 comentários:

Flávio Soares disse...

Caraca, Amor pra mim era so ter cumplicidade com alguém e até um pouco de egoísmo também, mas nunca imaginei que viraria esse estudo todo, desgraça boa! hehehe.

No fim a melhor teoria de todas ai é a de Leminski, então vamos nos viciar nesse jogo.

Railson disse...

TENSO.... aushasuhasuahsas... gostei do egoismo e da sobreposições no rpojeto existencial sartriano....

E achei interessante a tua vontade de abarcar a pisoclogia... sasghaushaushausahs..... mas é sempre meio complicado falar algo em huma teoria e não falar o mesmo na outra...o ciumes psicanalitico~que o diga;

Mesmo assim achei interessante o texto!!!

márcio disse...

mas me diz uma coisa, isso tudo é só resistência, é? ahsuahsuahshaus

Mara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mara disse...

No final uma visão mais romântica

^^

Luanny disse...

e kd você nesse texto imenso e cheio de teorias? kd o que você sente, como se sente e o que pensa respeito? enfim... ;)

Sem lenço e sem documento disse...

Vinicius,
Se tivesse uma única pergunta a te fazer seria a seguinte :
Quem foi que te machucou tanto ?
Você tem textos maravilhosos, porém cheios de teoria. E a teoria é ótima mas é apenas a busca para explicar algo. E geralmente a busca vem da dor. Quando algo nos machuca buscamos as mais diversas explicações para amenizar a agonia de lidar com algo que não entendemos.