Vivo numa bela cidade. Uma cidade simples, dita patrimônio cultural da humanidade por causa de meia dúzia de casarões velhos e deteriorados. Temos a idéia de que é bonito e intelectual venerar o passado. Mas não passa disso.
Temos grandes representantes políticos, uma aristocracia rural rústica, tropeira e sem modos, mas podre de rica, uma gente que parece se esforçar pra ser feia com suas chapinhas e etc., uma empresa que não consegue distribuir água mesmo num estado cheio de rios, uma companhia elétrica que não consegue regular a voltagem distribuída para as casas, uma classezinha estudantil medíocre que quando não quer ser Che Guevara, é apática e alienada, uns peões que entopem a mala do carro de caixas de som pra chamarem a atenção de outros peões, entre outras "maravilhas".
Mas nem tudo está perdido! Os grandes representantes políticos estão velhos, decrépitos ou cheios de doença, então nao custa pagar pra ver quando os atuais pequenos se tornarem grandes. A aristocracia rural, até por uma questão de dinâmica econômica tende a deixar de ser pelo menos rural, então quem sabe talvez seus filhos venham a ser menos rústicos, tropeiros e sem modos, afinal a maioria já estuda na cidade, onde as possibilidades de interação com o século XXI são maiores. A chapinha às vezes dá certo pra algumas pessoas, então quem sabe o bom senso venha com o tempo. A questão da água vai ser problema pra todo mundo daqui a alguns anos, então talvez a noção de "má distribuição" tenda a se modificar também, ou a empresa de água pode vir a ser privatizada e talvez ganhe até concorrência. Concorrência esta que seria essencial para que a empresa de luz fosse melhor (qualquer empresa, aliás). A classe estudantil, por questão de mercado (cada vez mais exigente), creio eu, e também pela mudança que possa vir a ter no ensino médio e no vestibular, vai aprender que estudante tem é que estudar, não adianta levantar bandeiras se o indivíduo ainda é um feto na sociedade, assim talvez passe a ter visão crítica decente e coerente de mundo, sem manipulações partidárias ou ideológicas de quaisquer movimentos, o que de fato seria mais que uma revolução; e por outro lado, ao ler mais, quem sabe os estudantes passem a buscar melhorias em seu ensino, para mais na frente promover mudanças significativas . Os peões talvez aprendam que existem formas mais charmosas, sutis e efetivas de se chamar a atenção, e de pessoas que realmente interessam, não de outros peões.
Enfim, talvez as pessoas no futuro tenham frustrações mais simples delas lidarem.
Mas alguém aí acredita mesmo em futuro? Ou em alguma coisa dita no parágrafo anterior? (Ou ainda que eu seja realmente esse poço de otimismo?)