terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Questões acerca do Ato Médico


Eu confesso que li pouca coisa de oficial a respeito disso, mas tenho visto muitas publicações pela internet visando a discutir a questão. Ainda não pensei direito, e nem sei se tenho conhecimento suficiente para chegar a uma conclusão sobre o tema, mas acho estranho a quantidade de profissões da área da saúde que lidam com a fisiologia. A minha questão é: o que exatamente estas outras profissões fazem que o médico não tenha como opinar?

No caso da Psicologia, ou até mesmo da terapia ocupacional, fica bem claro pra mim porque lida com questões que não estão no âmbito da fisiologia, mas e no caso das outras? Eu estranho dar esse poder todo aos médicos, mas não me sai da cabeça uma dúvida quanto a todas estas outras áreas: elas não teriam surgido justamente por uma questão de nicho de mercado?

O que eu quero dizer é que na Psicologia temos o exemplo da Psicopedagogia, que surgiu diante de uma demanda que a Psicologia Escolar não acolheu (talvez até tenha surgido assim a TO também). Me pergunto então onde estas outras áreas da saúde, que não a psicologia (ou talvez a TO), diferem essencialmente em relação ao saber médico. Onde diferem essencialmente seus objetos de estudo, seus âmbitos temáticos de investigação?

Poder-se-á objetar que o saber médico não é o mesmo do médico veterinário apesar de lidarem com a fisiologia, mas além da diferença essencial entre animais e homens, acredito que os médicos não teriam tanta dificuldade em aprender sobre fisiologia animal e poder opinar rapidamente sobre alguma questão.

A enfermagem nunca reclamou da hierarquia que sempre existiu entre médicos e enfermeiros. Até onde eu sei sempre foram lugares muito bem demarcados. Enfim, eu sei que muita gente vai repudiar o que eu escrevi, mas não posso deixar de expor essas questões que acho que devem ser colocadas também, e que as pessoas querendo manter sua clientela talvez não devam querer pensar tanto. Posso também ser acusado de estar sendo bairrista em relação á Psicologia, mas basta ler qualquer livro introdutório sobre o assunto para saber que não se trata de soma, mas sim de psique.

Assumo que me falta um conhecimento sólido a respeito dos objetos de estudo e do surgimento dessas ciências. Mas como acho que já disse apenas quis colocar a questão...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Deus é neurótico: imagem e semelhança dos homens.


Sem querer entrar em detalhes quanto à forma como as religiões podem ter se estabelecido, desta ou daquela maneira, a afirmação do título pode ser confirmada quando se pensa que Deus nos deu o livre-arbítrio para escolhermos amá-lo. Ora, se ele quisesse realmente que o amássemos, não teria nos dado o livre-arbítrio. Esta é a NOSSA forma de construir um deus, partindo do nosso modo de se sentir em relação ao mundo e às pessoas.

Pensemos na ideia de um ser superior, sem começo nem fim, todo-poderoso, totalmente bom (o que conflitua com a ideia de todo-poderoso), que ama seus filhos e quer ser amado por eles também. Se ele realmente "desejasse" isso, e não somente quisesse, nos teria feito com a única opção de amá-lo.

Parece que Deus precisa que lhe demos a falta. Bem aí surge um conflito: Deus não pode ser faltoso. Então por que precisamos amar a Deus ("sobre todas as coisas")? Por que ele quer o nosso amor para nos congratular com um lote no cantinho do céu?
O Deus que criamos é neurótico! Nós o fizemos faltoso e sintomático. Ele ao mesmo tempo que precisa que o amemos, não nos fez assim, porque é sintoma aquilo que o impede de chegar ao seu desejo. Ele precisa ficar no imaginário, esperando que o escolhamos. Ele precisa não saber, ele precisa do não-saber, da falta. Parece que ele sabe dos possíveis efeitos de uma satisfação total.

Seria muito fácil para ele nos fazer amá-lo ao nos criar, mas ele não se sentiria amado "de verdade". E este é outro ponto onde colocamos algo nosso nele, pois nós nos sentiríamos mal sabendo que temos o poder de fazer alguém nos amar. Isto pode ser percebido, por exemplo, em relacionamentos onde aquele que gosta "demais" tem que ficar medindo suas atitudes para não assustar o outro, justamente porque esse outro, sabendo do poder que tem para despertar esse grande amor, pode perder o interesse. Há que ter sempre uma dúvida para o neurótico. Ele quer ter notícia, mas não quer esse saber.

Existem outros vários pontos em que a questão pode ser explorada, e se eu não estivesse tão enferrujado nas leituras freudianas de Moisés e o Monoteísmo, ou Totem e Tabu, talvez elaborasse um texto mais contundente. Enfim, a intenção aqui, como no blog de modo geral, é simplesmente rascunhar ideias. Então é isso. Fica a dica dessas leituras (e do Mal-estar na Civilização), para aqueles que se interessem pela visão psicanalítica do social.