segunda-feira, 25 de julho de 2011

They tried to make me go to rehab...


Aos 27 anos de idade (emblemático por sinal), morre a cantora inglesa Amy Winehouse. Em todos os veículos de comunicação e comentários pelas ruas, as pessoas julgam a morte dela como prematura e tendem a condenar seus comportamentos e atitudes.
Como um reles apreciador de uma música ou outra dela, não me cabe aqui julgar se ela era alguém que realmente precisava de ajuda ou se ela escolheu mesmo isso. Sim! Escolheu! Afinal somos condenados a escolher, como diria Sartre. Mas me refiro aqui a uma escolha consciente, no sentido de ter sido motivada por uma vontade mesmo.
De qualquer forma, a questão da morte sempre é algo que me afeta. Especialmente mortes que suscitam julgamentos como os mencionados. Honestamente me incomoda ouvir as pessoas recriminando e se compadecendo dela como se já soubessem de antemão que sua morte lhe foi algo completamente alheio e estranho. A própria mãe dela disse que era questão de pouco tempo.
Enfim, acredito que ela viveu seus 27 anos bem melhor que muita gente que está com seus 80 e ainda se esquivando e se privando de muita coisa. A morte é algo "natural", é a totalização do projeto, no sentido heideggeriano. Não que devamos assisti-la de maneira impassível e desprovida de emoção, mas que possamos lembrar que acontecimentos como esse abrem a possibilidade de reflexão sobre o sentido de nossas próprias vidas. É justamente no ser-para-morte que abrimos mais nossa compreensão sobre nós mesmos, nossa própria existência. Os julgamentos morais praticamente irrefletidos só nos encobrem tal possibilidade.
Situações como esta não servem simplesmente para que possamos opinar na fila do pão ou no ponto de ônibus, mas devem acima de tudo nos trazer tematicamente a nossa responsabilidade sobre cada projeto de vida que construímos. A reflexão sobre o sentido da existência, que é assunto ôntico de cada um, é a mais originária e fundamental do ser humano.
A Amy já não é mais possibilidade, sua existência acabou, ela fez suas próprias escolhas, e você? Já pensou hoje sobre o que quer verdadeiramente da sua vida?

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Temporalizando...


Às vezes o maior medo que temos na vida é de estarmos perdendo tempo. Isto parece sempre ser algo tão precioso... Não é novidade certamente para ninguém que devemos esse preciosismo ao caráter finito de nossa existência. Temos vários teóricos que versam sobre esta temática e suas implicações, especialmente Martin Heidegger e Jacques Lacan.
O tempo é onde se descortina o horizonte do ser, é onde ele se realiza. Heidegger nos diz que "tempo é sempre tempo para alguma coisa", definindo precisamente o que ele chama de caráter da interpretabilidade da temporalidade. Temos com o tempo, como com os entes, também uma relação de instrumentalidade a qual podemos assumir propriamente ou não.
Freud apud Lacan nos traz a notícia de que o tempo é sempre o tempo de cada um. Ele se constitui individualmente a partir das marcas que nos são imprimidas. Ter esta compreensão é de fundamental importância para as relações, pois diz respeito à forma como cada um se posiciona diante do que constitui o desejo, a saber, a falta. Esta que nos coloca na eterna corrida pelo sentido ao redor do objeto perdido, o Das Ding.
É possível perceber então em ambos os teóricos que a questão do tempo é, acima de tudo, questão de sentido. Implica então que "perda de tempo" é "perda de tempo para alguma coisa". Esse "para alguma coisa" faz toda a diferença, pois é o sentido que cada um atribui ao que assume em sua existência, ou ao que deixa de assumir. Neste sentido, a sensação de vazio causada pela sensação de "perda de tempo" pode ser colocada como uma falta de sentido diante daquilo que colocamos como propósito ou finalidade de nossa existência.
No saber psicanalítico, a sensação de "perda de tempo" pode ser colocada no lugar do objeto de desejo como uma fuga para não assumi-lo. Ou seja, diante daquilo pelo qual temos de pagar um preço podemos resistir colocando a "perda de tempo" como explicação para algo que não queremos ter que lidar.
A ética da Psicanálise diz de um posicionamento que possibilite ao sujeito sustentar a falta, ou seja, sustentar desejo. Sendo assim, dizer que algo é "perda de tempo", deve sempre levar em consideração seu "tempo para o desejo", que se recobre de sentido, ou sintoma, que pode muito bem surgir como resistência colocando o eu em sofrimento por um não posicionamento em seu tempo enquanto sujeito. Dessa forma o trabalho analítico pode auxiliar a uma "temporalização honesta" com o sujeito.
Certamente a pobre exposição feita aqui sobre estes modos de concepção do tempo são insuficientes para uma analítica mais detalhada do fenômeno da temporalidade. Além do mais é um tema extremamente complexo e que me deixou mesmo confuso várias vezes ao longo deste pequeno texto. Todavia o fundamental talvez seja de se perceber esta relação de sentido com a finitude tão discutida neste blog. Mas por que isso de novo? Porque é mais difícil dizer o mesmo do mesmo, e também porque o sentido nunca se esgota.