Imagino que todo graduando em psicologia deva passar pelo momento angustiante da escolha de qual abordagem orientará sua prática. E em uma Universidade como a Federal do Maranhão, as coisas são ainda mais complicadas porque o campo de possibilidades é muito reduzido. Tais graduandos se vêem obrigados a escolher entre Análise do Comportamento ou Psicanálise, uma vez que outras abordagens carecem de profissionais com boa experiência, fundamentados ou às vezes compromissados que pudessem orientar outras práticas psicológicas.
Aparentemente as abordagens dominantes se instalaram primeiro aqui e isto talvez seja uma boa explicação para essa limitação da psicologia maranhense. Apesar de que pelo tempo que o curso existe já deveríamos ter mais opções.
Mas existe também o problema da aceitação. Isto é, abordagens de cunho mais filosófico, logo que exigem mais leitura, talvez não sejam de interesse de uma sociedade imediatista como a nossa. A Análise do Comportamento oferece quase que uma pílula mágica com seus recortes e sua estrutura externalista de causa e efeito, chegando à pretensão de "dar alta" a seus clientes. E sim, causa e efeito, pois Skinner só conseguiu não ser tão ingênuo quanto seus predecessores. Ele encontrou boas desculpas para dar, inclusive extraindo idéias do humanismo. Quem nunca pensou na semelhança entre o conceito de discriminação e o conceito de ato intencional? Enfim, abordagem prato cheio para os funcionários da ciência, neuróticos obsessivos.
Mas a Psicanálise não é imediatista e também é bem complexa. Pode ter sido uma questão de marketing, ou do desejo das pessoas em procurar respostas no "sobrenatural", ou ainda por falar em energia sexual, o que mexe com o imaginário leigo, enfim, dizem que Freud foi o autor mais citado no século XX. De uma forma ou de outra, apesar de ser de uma boa complexidade e seu processo de tratamento ser às vezes demorado (depende do neurótico), o que talvez fosse um complicador, ela oferece um modelo pronto, um sistema fechado em que pra tudo se pode encontrar explicação. Isto é extremamente confortável, logo atrativo.
As abordagens existenciais fornecem boas críticas a esses modelos mais aceitos, o que é bom pro conhecimento teórico da psicologia, mas talvez na prática a coisa não funcione tão bem. O método utilizado no processo terapêutico dessas abordagens é filosófico e, talvez por minha leitura ainda ser razoável, parece impraticável. Muitas das vezes isso faz parecer mais uma "filosofia clínica" que propriamente uma psicologia. Existe também influência da psicanálise, como por exemplo na psicologia existencial sartreana. Mas o pior de tudo são as teorias de bom coração dos humanistas ingênuos que possuem fundamentação e método chulos, soando quase que como auto-ajuda às vezes.
De uma forma ou de outra o que resta é continuar buscando embasamento para minimamente se ter uma consciência necessária para fazer a melhor escolha e poder-se arcar com a correspondente responsabilidade.