quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Realidade virtual: indivíduos próximos ou distantes?

Em notíca divulgada pelo portal G1, esta semana, foi divulgado um problema ocorrido em uma pequena parcela de usuários do site de relacionamentos "Orkut". Estes usuários ao tentarem logar normalmente em suas contas foram surpreendidos pelo fato de que sua conta ou seus dados haviam desaparecido. É interessante notar nos relatos algo próximo ao desespero diante daquela situação de quebra dos laços virtuais: “Tenho mais de 400 amigos, depoimentos e declarações de pessoas que amo. Não quero um Orkut novo, apenas minha velha conta”, uma usuária em e-mail para o portal G1. A grande questão é como são as relações concretas destes indivíduos? E em relação a esta, seria a relação virtual algo da ordem do concreto?

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em suas teorias sobre a modernidade líquida, está sempre nos mostrando como as relações, assim como a economia (braço dominante do Estado), estão cada vez mais na esfera do virtual. E mostra as possibilidades de alguns eventos que possam ter nos levado a esta condição. Mesmo não tendo como oferecer uma resposta fundamentada em dados, o que o Bauman coloca a respeito disso é bastante coerente e perceptível na realidade atual. Em relação a esta questão também pode-se pensar o retorno "às coisas mesmas" da fenomenologia do alemão Edmund Husserl e no existencialismo de Soren Kierkegaard, onde eles tenta escapar do absolutismo das abstrações positivistas que tende a ver o homem como objeto de estudo. Esta coisificação ocorre em consequência do advento da razão que acaba por atingir o status de bom e certo. Emoção e sentimentos devem ser evitados para que os indivíduos possam executar suas atividades. O problema é que tal verdade está tão arraigada que passa a pertencer a todas as esferas da vida comum dos indivíduos tornando-os mais frios e individualistas. E isto se nota nas grandes cidades que estão mais inseridas neste modelo.

Tendo em vista este panorama do não-contato, do não-comprometimento com o outro, da facilidade e velocidade com que as relações começam e terminam (à distância de um clique), reflitamos sobre a questão de essas relações poderem ser consideradas concretas ou não. Por um lado, por conta de várias questões, dentre elas as citadas acima, pode-se considerar que este modo de relacionar-se distancie os homens e impeça o encontro concreto com o outro. Parece de alguma forma que há um distanciamento do mundo da vivência e uma evasão inautêntica que evita a convivência necessariamente conflituosa com o outro. Dessa forma parece que não há possibilidade de a relação virtual vir a ser concreta. Porém por outro lado, tem-se a todo instante pelos veículos de informação o discurso da era da interatividade. Até que ponto deve-se questionar sua validade? Em termos de fenômeno, será que não é possível lidar com a essência do que aparece no virtual? Quer dizer, será que o virtual já não é realidade? Seria considerada à parte ou pertencente à realidade concreta de fato? Será que não existe a possibilidade do encontro com o outro de fato através das relações virtuais que se tornam cada vez mais reais?

A resposta para estas questões demanda de um volume de estudo maior a respeito da questão fenomenológica, mas pode-se concluir enquanto isso que devemos pesar prós e contras das relações virtuais. Elas permitem o encontro, o facilitam, porém facilitam também o não-comprometimento com o outro, minando com o valor moral fundamental do homem que é a responsabilidade, pois esta só pode se dar no compromisso com a alteridade, no contato com o diferente. Pode-se considerar a concretude da realidade virtual sim, porém, o homem não pode chegar ao ponto de desistir de outras vivências em detrimento desta, pois isto acarretará muito sofrimento, fenômeno que já pode ser notado nos próprios sites de relacionamento. Neste ponto vale o pensamento grego da justa medida, do equilíbrio.